TONELADAS DE ASSÉDIOS?
Foi o que se me pareceu quando a empresa sacrificou um dos seus mais antigos e talentosos atores, José Mayer.
Mayer cometeu seu erro e enquadrado em crime de assédio, apurada a veracidade, mereceu a punição. Não se defende seu grave comportamento que teria existido e motivou uma resposta enérgica do Sistema Globo.
Mas, pelo fato, a conjunção, aparece nessa história. E não apenas uma, porém alguns outros “entretanto”. Lendo comentários do jornalista Ricardo Feltrin, colunista do UOL, jogando as favas o assediador, e ao ler os comentários de sua coluna, fui despertado para algumas coisas lembradas pelos comentaristas.
Feltrin sabe das coisas por cobrir há mais de vinte anos os bastidores de TV. Diz ele: ”o que se sabe é que os casos de assédio na TV não se resumem a isso, e que tampouco ele é heterossexual. O assédio não tem orientação” (sic).
Esses comportamentos vêm acontecendo há muito tempo e afirma o jornalista que a Globo não compactua com essa cultura de assédio e tão pouco é a única emissora (ou empresa) em que isto ocorre. Isso é óbvio pelo seu porte, pela tradição e prestígio no mundo da comunicação nacional e internacional, tanto quanto outras empresas do ramo, em tese.
E hoje, cada vez mais, de acordo com as novas regras legais nas relações trabalhistas, uma simples exposição do funcionário ao ser chamado atenção na frente dos colegas de trabalho já pode estar configurado o assédio, dependendo da forma como serão usadas as palavras por quem está punindo. Até mesmo nos quartéis quando um militar que cometia grave crime, em outros tempos, ficava diante da tropa formada, ouvindo o seu enquadramento no Regulamento Militar, para justificar sua exibição pública. Punido e humilhado. Pelo que sei não se adota mais esse procedimento. Seria também um assédio no pensamento contemporâneo do direito.
Voltemos ao que a Globo fez. Puniu severamente José Mayer, um direito, ainda que tenha sido um trabalhador talentoso e que ajudou a empresa a ter lucros com sua inclusão nas melhores, mais ricas e de maiores audiências alcançadas pela emissora. Gesto correto.
No artigo do jornalista Feltrin, ele cita ocorrências de assédios na própria Globo, que não teriam sido divulgadas para o seu público externo.Aliás, suspeições envolvendo dois atores conhecidos, um dos quais faleceu, poderiam, para alguns telespectadores ou leitores, configurar resultado de assédio.
A Rede Globo, estranhamente, ou para ficar bem na foto, resolveu por seus diretores sacrificar José Mayer, como exemplo. De forma pública.
O problema era interno, mas, suponho, por pressão de um grupo de “puros” resolveu, além da rigorosa punição, expor o ator. Manifestou solidariedade ao grupo “mexeu com uma, mexeu com todas”. Quem assegura que essas todas agem por serem puras ou pelo novo pensamento de isolar, contrariando a modernidade permitida hoje legalmente, a mulher do homem; o homem do homem ou a mulher da mulher.
Não se discute na voz do cidadão o mérito pois a vítima teve a coragem louvável de proceder a denúncia, e José Mayer deve pagar pelo que fez, mas não se deve punir uma pessoa duas vezes pelo mesmo crime.Foi o que a Globo fez. Puniu seu ator. Todavia estaria certa em punir com execração pública um funcionário? Não o ator. Poderão dizer, mas se trata de uma celebridade. Mas é um funcionário.
José Mayer, além da punição, foi “fragilizado, ridicularizado, e menosprezado na frente dos colegas, do Brasil e do mundo, em ato da direção da emissora. Se isso não é também assedio como ditam as regras, é o que?
Talvez, pelo seu perfil, Roberto Marinho, pai, não tivesse concordado com os procedimentos dos seus filhos, na forma adotada. E por falar nisso, fica alguns questionamentos: A Globo inclui em suas produções cenas de sexos e violências que assustam crianças em determinados horários, mas a justificativa é a de que os pais devem controlar seus filhos. Como?
Pois é, se analisado por especialistas de renome nacional e internacional, atos desse tipo também não poderiam configurar assédio dissimulado na formação das crianças e da juventude como um todo?
Nos comentários que li, se escreveu muito sobre hipocrisias da emissora. Bem, de qualquer forma foram toneladas de assédios sobre José Mayer.