Delator da Lava Jato, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado afirmou que o presidente interino Michel Temer negociou com ele o repasse de R$ 1,5 milhão de propina para a campanha de Gabriel Chalita, então candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo, em 2012, de acordo com informações do jornalFolha de S.Paulo.
De acordo com o delator, o repasse foi feito em setembro daquele ano por meio de doação eleitoral pela empreiteira Queiroz Galvão, contratada da Transpetro. A conversa teria ocorrido numa sala reservada da base aérea.
“Michel Temer então disse que estava com problema no financiamento da candidatura do Chalita e perguntou se o depoente poderia ajudar; então o depoente disse que faria um repasse através de uma doação oficial”, diz o documento de sua delação.
As falas de Machado são uma explicação do delator sobre um diálogo gravado com o ex-presidente José Sarney sobre o tema.
Trecho da conversa revelada pela Folha:
Machado: Você acha que a gente consegue emplacar o Michel sem uma articulação do jeito que esta…
Sarney: Não. Sem articulação, não. Vou ver o que acontecendo, vou no Michel hoje…Machado revela que contribuiu com Temer, ajudando na campanha do “menino”, que para os investigadores é Chalita.
Machado: O Michel presidente… lhe dizer… eu contribuí pro Michel.
Sarney: Hum.
Machado: Eu contribuí pro Michel… Não quero nem que o senhor comente com o Renan (Calheiros, presidente do Senado)… Eu contribuí pro Michel para a candidatura do menino… Falei com ele até num lugar inapropriado, que foi na base aérea.
Sarney: Mas alguém sabe que você me ajudou?
Machado: Não, sabe não. Ninguém sabe, presidente.
Demais repasses
Machado também revelou que Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senadorRomero Jucá (PMDB-RR) receberam dinheiro desviado de estatais durante anos.
Os repasses para Renan teriam começado entre 2004 e 2005, após o senador dizer a Machado que precisava reforçar suas bases políticas. Segundo o delator, foram feitos repasses mensais de R$ 300 mil, durante dez ou 11 meses a cada ano.
O presidente do Senado teria recebido R$ 32 milhões em propina, em dinheiro em espécie e doações oficiais de empresas como Camargo Correa, Galvão Engenharia e Queiroz Galvão. Machado disse ainda que em 2007 chegou a ter atritos com Renan, que queria mais recursos.
Também foram citados na delação de machado político do PT, PP, DEM, PSDB e PSB, além do PMDB, que teria arrecadado R$ 100 milhões.
Estão na lista o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), o ex-senador Sérgio Guerra (PSDB-PE, morto em 2014), o senador José Agripino Maia (DEM-RN), o deputado Felipe Maia (DEM-RN), além dos parlamentares e ex-parlamentares Cândido Vaccarezza (PT-SP), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Luiz Sérgio (PT-RJ), Edson Santos (PT-RJ), Francisco Dornelles (PP-RJ), Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Ideli Salvatti (PT-SC), Jorge Bittar (PT-RJ), Garibaldi Alves (PMDB-RN), Valter Alves (PMDB-RN) e Valdir Raupp (PMDB-RO).
Defesa
Atual secretário municipal de Educação de São Paulo, Chalita disse que, como manifestado anteriormente, não conhece e não tem nenhum contato com Machado. Também afirmcou que nunca soube de um eventual pedido que teria sido feito pelo presidente interino.
O advogado de Jucá e de Sarney, Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, disse que os dois negam ter recebido recursos de Machado.
Agripino Maia afirma que as doações recebidas “foram obtidas sem intermediação de terceiros, mediante solicitações feitas diretamente aos dirigentes das empresas doadoras”. Ele disse ainda que, como presidente de partido de oposição, não teria nenhuma “contrapartida a oferecer a qualquer empresa que se dispusesse a fazer doação em troca de favores” do governo.
“Machado nunca arrecadou para as minhas campanhas, nunca pedi que ele arrecadasse”, disse Vaccareza.
O deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) confirma ter recebido doações da Queiroz Galvão, mas afirma que elas foram legais.
O deputado Felipe Maia (DEM-RN) se disse surpreso com a citação de seu nome. “Todas as doações recebidas na minha campanha foram devidamente contabilizadas e aprovadas pela Justiça Eleitoral”, afirmou.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) informou anteriormente ter pedido “ajuda pessoal” a Sérgio Machado, mas negou que existam irregularidades em sua contabilidade eleitoral.
Fonte: FOLHA