Inicialmente visto como uma celebridade inofensiva e sem chances reais de vitória, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald John Trump, enfrentou ceticismo desde que anunciou a sua candidatura.
A ascensão, de suas bases ao topo da estrutura do partido Republicano, foi barulhenta e cheia de polêmicas. Quando ficou claro que ele venceria as prévias, deixando 16 concorrentes para trás, um colunista do “The Washington Post” teve que pagar uma aposta e comer a sua coluna, tamanha era a descrença meses antes.
O processo culminou com a vitória desta quarta (9), quando ele prevaleceu sobre uma rara união entre empresários, artistas e intelectuais renomados, além de grandes veículos de mídia, que deram apoio à democrata Hillary Clinton.
Milionário desde o berço, ele se vende como bom gestor e candidato antiestablishment, “outsider” não corrompido pela política.
Filho de um empreendedor imobiliário austero que fez fortuna construindo apartamentos populares subsidiados pelo governo do Estado, Trump entrou também no ramo da construção civil em 1975, quando ganhou US$ 1 milhão de seu pai (US$ 4,5 milhões em valores atualizados, ou R$ 14,4 milhões) para poder iniciar seus negócios. Antes havia feito o ensino médio numa academia militar e se formado na prestigiosa escola de finanças Wharton, na Universidade da Pensilvânia.
Ganhou e perdeu milhões em empreendimentos como as Trump Towers, prédios dourados extravagantes cujo exemplar mais conhecido está até hoje na Quinta Avenida, no coração de Manhattan, ou o cassino Taj Mahal, em Atlantic City (Nova Jersey), que faliu.
Não se sabe ao certo o tamanho de sua fortuna. O presidente eleito dos EUA gaba-se de que que seus bens somam US$ 10 bilhões (R$ 32 bilhões), mas levantamento de setembro da revista “Forbes”, estima US$ 3,7 bilhões (R$ 11,84 bilhões).
A declaração do imposto de renda do republicano é igualmente desconhecido: Trump rompeu uma tradição pró-transparência mantida por postulantes à Casa Branca e não tornou pública sua declaração de imposto de renda. O noticiário americano afirma que ele deve cerca de US$ 700 mil (R$ 2,24 milhões) e ele nega.
Nascido em 14 de junho de 1946 no bairro do Queens, em Nova York, Trump foi o quarto de cinco filhos de uma família de descendentes de alemães. Transcorridos 69 anos e dois dias, anunciava sua entrada na corrida pela Casa Branca.
Nesses 16 meses de campanha, o bilionário insultou 282 pessoas, lugares ou organizações, de acordo com levantamento feito pelo jornal “The New York Times” com base em posts publicados até o final de outubro na conta de Trump no Twitter.
Foi acusado de ser xenófobo, racista, misógino e antissemita. Após propor barrar a entrada de muçulmanos nos EUA, também passou a ser chamado de islamofóbico e teve que aditar a sugestão –reformulada, a regra valeria apenas para muçulmanos vindos de países com histórico de terrorismo.
A afeição por polêmicas, holofotes e barulho já era conhecida em função do reality show “The Apprentice” –que ganhou uma versão brasileira, “O Aprendiz”. Nele Trump popularizou a frase “You are fired!” (você está demitido), usada para eliminar os aspirantes a um emprego.
O presidente eleito se apresenta como um bilionário e mulherengo, está no terceiro casamento e no quinto filho. A parceira atual a eslovena naturalizada americana Melania Trump, 24 anos mais jovem que ele, foi acusada de plagiar discurso de Michelle Obama na sua fala no primeiro dia das prévias republicanas.
A festa de casamento de Trump e Melania, em janeiro de 2005, contou com a presença do casal Hillary e Bill Clinton.
Apesar de gabar-se do sucesso com as mulheres, Trump se viu em saia justa na reta final da campanha depois que várias delas vieram a público relatar casos de suposto assédio sexual envolvendo o presidente eleito. Ele nega.
A enxurrada de acusações ocorreu depois que o jornal “The Washington Post” revelou vídeo de 2005 em que Trump comenta, nos bastidores de uma entrevista, que agarra “as mulheres pela xoxota”. E completa: “Quando você é famoso, elas deixam”.
Ao longo da campanha, o republicano prometeu menos impostos para todos e pleno emprego a trabalhadores de média ou baixa qualificação, que seria tornado possível com a expulsão dos 11 milhões de imigrantes ilegais que vivem nos EUA, com a construção de um muro na fronteira sul do país, e com o aumento da tarifa de importação sobre produtos chineses.
Trump também pretende se afastar de parceiros comerciais como China e o México e aproximar-se da Rússia. O aquecimento global passará a ser tratado na Casa Branca como um “boato inventado pela China”. Outra guinada planejada pelo bilionário deverá ser na política de contenção nuclear mundial praticada nas últimas décadas.