Direito no cinema e nas séries: inspiração ‘made in USA’ pode decepcionar futuros bacharéis

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No cinema, profissões relacionadas ao direito podem parecer extremamente empolgantes e dinâmicas. Da intervenção dos advogados em cenas de prisão, passando pelos interessantes investigadores das firmas de advocacia e, por fim, os discursos de oradores impecáveis em tribunal. O direito brasileiro, no entanto, é bem diferente da ficção americana.

“O estudante de direito que entra para o curso achando que vai ao tribunal fazer sustentação pode se decepcionar com a carreira. No Brasil, temos tribunal do júri e é muito emocionante, mas é muito raro, acontecem somente em crimes contra a vida”, afirma Leonardo Rabelo, cinéfilo e professor de direito da Universidade Veiga Almeida.

Apesar das expectativas construídas por filmes e seriados poderem ser frustradas pela realidade dos cursos de direito no Brasil, o professor acredita que essas histórias podem ter um papel positivo na escolha pela carreira. “Tem filmes que podem ser imensamente inspiradores. É uma profissão em que você toca as pessoas, e se o estudante se espelhar num personagem que resolve problemas, enfrenta dificuldades, é um aprendizado válido”, comenta.

A pedido, o professor Leonardo Rabelo comentou alguns filmes e seriados que tratam de profissões relacionadas ao direito. “Acredito que o audiovisual é uma excelente forma de passar conhecimento para estudantes”, garante.

Justiça (2004), Juízo (2007) e Morro dos Prazeres (2013)

A trilogia de documentários da diretora Maria Augusta Ramos tratam do sistema prisional brasileiro, mostrando o trâmite legal no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, no julgamento de menores de idade e na pacificação de favelas do Rio, respectivamente.

“Mostra como trabalham o advogado, o promotor, o juiz. Esses filmes mostram a dura realidade do trabalho relacionado ao direito no país”, comenta o professor Rabelo.

Erin Brockovich, uma mulher de talento (2000)

A história verídica de uma mulher sem formação em direito que se descobriu na área apresenta um personagem bastante comum nas firmas de advocacia dos Estados Unidos, mas que não existe no Brasil: o investigador.

“Eles não necessariamente são formados em direito. A Erin torna-se uma excelente investigadora, porque tem predisposição e inteligência para a função. No Brasil, quem investiga é a Polícia Civil”, lembra o professor.

O homem que fazia chover (2007)

Um clássico das faculdades de direito, esse filme traz novamente a figura do investigador. A história é sobre a união de forças de um investigador experiente com um advogado recém-formado num caso contra uma empresa de planos de saúde. A obra de Francis Ford Coppola foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante.

“É um filme maravilhoso não só pelas cenas do tribunal, mas pela construção da tensão do caso”, elogia o professor Rabelo.

Chicago (2002)

Nesta adaptação do musical da Broadway, o advogado Billy Flynn, interpretado por Richard Gere, apresenta o tribunal como um verdadeiro circo. A cena em que ele faz a sustentação da defesa é tratada como o sapateado do advogado.

“Nos Estados Unidos, o tribunal é tratado como espetáculo porque lá eles podem construir o direito. Aqui, o que vale é o texto da lei, enquanto lá um advogado pode aparecer com uma interpretação enlouquecida da lei e ganhar um caso. Por isso são tidos como atores excelentes, que ganham muito bem por causa dessas defesas”, explica o professor.

Suits (2011 – presente)

O seriado sobre a amizade entre o advogado de renome Harvey Specter e o charlatão Mike Ross faz sucesso por seu texto sarcástico e casos muito bem resolvidos.

“É um retrato muito legal do universo corporativo americano. Vemos aí a figura do advogado inescrupuloso, o estereótipo que seduz muitos estudantes. Nos EUA, o advogado é sempre visto como uma figura sem ética, porque olha em primeiro lugar para o interesse do cliente. No Brasil, a profissão não é vista dessa maneira tão negativa”, contrapõe Rabelo.

Advogado do Diabo (1997)

O filme clássico estrelando Al Pacino e Keanu Reeves mostra o estereótipo americano sobre advogados: inescrupulosos e sem ética.

“Eu brinco que é o único tipo de advogado que existe. Esse filme passa a impressão de que a vida da profissão é um eterno dilema ético, mas isso não é real. Se ele é representante de uma parte, não importa o que acontecer, ele deve defendê-la com tudo”, alerta o professor Rabelo.

How to get away with murder (2014 – presente)

“No começo do curso de direito, todo estudante quer ser a Annalise Keating”, brinca o professor, em referência à protagonista da série, a advogada inescrupulosa interpretada por Viola Davis.

“Não tem nada mais emocionante no direito do que o crime. Todo mundo ama. A série mostra a pessoa que vai até as últimas consequências para livrar seus clientes e é uma verdadeira aula de direito criminal americano”, avalia Rabelo.

American crime story: The people versus OJ Simpson (2016)

A série de elenco estelar — Cuba Gooding Jr, Sarah Paulson, David Schwimmer e John Travolta estão entre os personagens principais — mostra o julgamento do jogador de futebol americano OJ Simpson desde sua prisão até o veredito.

Os episódios mostram o trabalho dos advogados de OJ, dos promotores de justiça e até mesmo do juiz Lance Ito. “É um direito muito estranho para nós, em que um advogado revira o lixo da casa do cliente para procurar provas de sua inocência. Aqui no Brasil quem investiga é polícia, nossos julgamentos não são tão dinâmicos. Lá, todo mundo pode investigar”, comenta o professor.

Fonte: G1

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