Um novo vazamento na barragem de Fundão, em Mariana, na região central de Minas Gerais, assustou funcionários da Samarco nesta quarta-feira (27). A estrutura é a mesma que se rompeu no dia 5 de novembro do ano passado, matando 17 pessoas. Duas ainda estão desaparecidas.
Segundo a mineradora, que é controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton, ocorreu uma “movimentação de parte da massa residual devido as chuvas das últimas semanas”. Ninguém ficou ferido.
A empresa informou que seguiu o plano de emergência e orientou os funcionários que trabalhavam próximo à área afetada a deixar o local. Não houve a necessidade de acionamento de sirene. As Defesas Civis de Mariana e Barra Longa foram informadas.
Ainda conforme a Samarco, o volume deslocado permanece entre as barragens de Fundão e Santarém. Em nota, a mineradora reafirmou que “as estruturas das barragens de Germano e Santarém permanecem estáveis com base no continuo monitoramento”.
Em nota, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil e a Secretaria de Meio Ambiente de Minas informaram que uma equipe do Núcleo de Emergências Ambientais se deslocou para a indústria a fim de avaliar os danos ao meio ambiente. Os órgãos governamentais confirmaram que às 12h houve “uma movimentação de massa no material que sobrou na barragem” e que o volume “não ultrapassou o limite da empresa”.
Tragédia
O rompimento do ano passado é considerado o maior acidente mundial com barragens dos últimos 100 anos. Se for considerado o volume de rejeitos despejados – 50 a 60 milhões de metros cúbicos (m³) – o acidente em Mariana (MG) equivale, praticamente, à soma dos outros dois maiores acontecimentos do tipo já registrados no mundo – ambos nas Filipinas, um em 1982, com 28 milhões de m³; e outro em 1992, com 32,2 milhões de m³ de lama.
Mas não é apenas nessa métrica (volume de rejeitos) que a tragédia mineira sai negativamente na frente. Em termos de distância percorrida pelos rejeitos de mineração, a lama vazada da Samarco quebra outro recorde. São 600 quilômetros (km) de trajeto seguidos pelo material, até o momento. No histórico deste tipo de acidente, em segundo lugar aparece um registro ocorrido na Bolívia, em 1996, com metade da distância do trajeto da lama, 300 quilômetros.
Problemas desde 2009
Documentos comprovam que desde 2009, pouco depois da inauguração de Fundão, a Samarco tinha conhecimento de problemas na estrutura. Naquele ano, a mineradora chegou a interromper o lançamento de rejeitos e esvaziou o reservatório recém-construído ao diagnosticar uma infiltração de um metro de diâmetro. Meses depois, precisou recuperar o dique ao constatar entupimento de drenos. No ano seguinte, um trecho do terreno afundou após o sistema de escoamento de água ser tomado por areia. Em 2011, a Samarco aplicou concreto no local, e em 2012 construiu novo sistema de escoamento.
Segundo relatório de inspeção elaborado a pedido da mineradora pelo escritório Vogbr, também indiciado pela PF, o descarte de rejeitos da mina vizinha de Alegria, da Vale, controladora da Samarco, provocava impactos na lateral esquerda de Fundão – a Vale não tinha autorização para o procedimento.
Fonte: R7.