A sala de aula da escola municipal Dom João Batista Costa, no município de Candeias do Jamari, foi transformada no espaço para oficina de prevenção de doenças. As crianças recortavam, pintavam e se divertiam ao deixar pronto a plaquinha com o aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. Lorrane e Pietra, ambas de seis anos e Isabelle de cinco anos, estavam entusiasmadas ao contar o que aprenderam.
‘‘Não pode jogar lixo no chão, tem que jogar na lixeira. Se não o mosquito pica a gente e a gente fica doente’’, disseram. A estudante do 7º ano Ana Helena Trajano,12 anos, também compartilhou o que aprendeu. ‘‘Não pode deixar o quintal sujo, nem água parada. Eu mesma já peguei malária e dengue, foi muito ruim’’, recorda.
Reduzir casos dessas doenças é uma das preocupações dos rondonistas do Projeto Rondon que este ano comemora o cinquentenário retornando a Rondônia, estado de origem da iniciativa. O projeto é coordenado pelo Ministério da Defesa e recebe o apoio do governo de Rondônia.
A Operação Rondônia Cinquentenário envolve cerca de 310 estudantes e professores universitários de 30 instituições de Ensino Superior que entre os dias 6 a 23 deste mês visitam 15 municípios de Rondônia. Em Candeias do Jamari, os trabalhos são realizados por estudantes da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e Universidade de Marília (Unimar).
Segundo o professor de arquitetura da Unemat, João Mário de Arruda Adrião, as oficinas trabalhadas com o público engloba os eixos temáticos como saúde, educação; cultura; direitos humanos; trabalho e meio ambiente. Apesar da escola ser o local escolhido para as oficinas, os universitários não ficam restrito ao público que chega até eles.
Professor ressalta empenho dos estudantes em ajuda a famílias de Candeias do Jamari
O professor relata que os estudantes tem ido até os bairros mais carentes de Candeias do Jamari e também às praças onde ali oferecem sessões de cinema à população. Inclusive fizeram uma ação no bairro Satélite onde o índice de malária preocupa.
‘‘Lá encontramos uma situação onde os moradores ganharam mosquiteiros, mas não utilizavam, então sugerimos que eles utilizassem telas nas janelas. Percebemos que uma das famílias estava bem envolvida com a atividade’’.
Outra sugestão apresentada à comunidade é colocar telas também no suspiro das fossas. ‘‘Vimos que tem uma quantidade grande de mosquitos ali’’. A ideia, segundo o professor, é que todos os conhecimentos compartilhados durante a operação tenha continuidade.
‘‘Queremos formar multiplicadores. Pessoas que, depois que nos formos, continuem aqui essas praticas ensinadas’’, garante. Agentes de saúde, professores, comunidade em geral e especialmente as crianças tem feito esse papel.
TROCA DE APRENDIZAGEM
A operação não só contribui com a comunidade onde visita, mas também para a formação de profissionais mais conscientes.
‘‘Durante o projeto, esses estudantes se deparam com realidades muito diferentes das suas. Isso ajuda a quebrar preconceitos. São pessoas que voltam com uma cabeça mais aberta. Veem o que é o Brasil de verdade’’, afirma o professor João Mário.
O estudante de engenharia civil da Unimar João Pedro Correa Bernardes, 22 anos, relata as impressões que teve do Estado. ‘‘É muito diferente de São Paulo. Primeiro o clima, aqui é muito quente e também o povo. Nos deparamos com uma cultura muito rica, tem uma diversidade ambiental muito bonita e a gente aprende muito com os moradores da cidade’’, garante.
João Pedro revela o que motivou a trocar as férias por participar da operação. ‘‘Para mim é o maior projeto de extensão universitária do Brasil. Conheci o projeto através do testemunho de um amigo que tinha participado do programa e acredito que algo válido para meu currículo e para a minha vida pessoal’’, afirma.
‘‘Pensei que ia deixar muitas contribuições para a cidade, mas percebo que eu é quem vou levar muita experiência de vida. É cansativo, mas vale muito a pena. São situações que a gente vai lembrar para o resto da vida. Esperamos que mais universitários se interessem em participar do projeto’’, destaca.
O estudante de engenharia agronômica da Unimar Wilhan Almeida, 27 anos, esperava por essa oportunidade desde quando ingressou na universidade. Agora, no 7º período, conseguiu participar dessa missão. ‘‘Me interessei pelo projeto pela vontade de levar conhecimento a quem mais necessita’’.
Ele reflete sobre o que já aprendeu na operação. ‘‘Com a realidade que encontramos em Candeias, a gente pára e pensa que ás vezes reclamamos e fazemos tempestade em um copo d’água, mas essas pessoas tem dificuldades de verdade’’, considera.
Ao mesmo tempo, ele percebe que a cidade ainda preserva muitos hábitos que já se perderam nas ‘cidades grandes’. ‘‘Vi situações que quase não se vê mais em São Paulo como crianças correndo atrás de pipas e nós acabamos interagindo com elas. É uma infância muito boa’’.
Equipe do Projeto Rondon em atividades no município de Candeias do Jamari