As primeiras horas que o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) passou de ontem (19) para hoje (20) na carceragem da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba, não tiveram visitas de familiares dele e nenhuma outra medida que fuja à situação dos demais presos, como alimentação especial ou dia extra de visitas.
Em compensação, o peemedebista já se encontrou, em menos de 24 horas, com oito advogados dos quatro escritórios de direito criminal que fazem a defesa dele em Curitiba e Brasília por conta de sua principal ocupação: o estudo do processo em que é réu e a definição das estratégias de defesa.
“Ele está muito tranquilo, estudando o processo, fazendo anotações e discutindo a estratégia de defesa com os advogados”, afirmou nesta quinta-feira, no final da manhã, o advogado Marlus Arns, que, até então, defendia a mulher de Cunha, a jornalista Claudia Cruz, em outro processo da Lava Jato.
De acordo com o advogado, Cunha está em um cela separada dos demais presos, mas na mesma ala onde se encontra, por exemplo, o ex-ministro Antonio Palocci (governos Lula e Dilma). Além deles, a carceragem da PF conta com outros nomes de destaque da operação, como o empresário Marcelo Odebrecht e o doleiro Alberto Yousseff. Cada cela tem 12 metros quadrados, cama de alvenaria com colchonete, sanitário e grades.
Indagado se Cunha fez algum tipo de pedido especial de alimentação, Arns negou. “Ele está na mesma condição dos outros presos, sem nenhum pedido especial, é um tratamento igual para todos e será o mesmo para ele”, disse.
Apesar das declarações de Arns, por volta das 15h30, dois advogados do ex-deputado subiram o elevador que dá acesso ao local onde os presos ficam com itens de higiene e alimentos –como papel higiênico, macarrão instantâneo e refrigerantes. Os produtos estavam em cinco compartimentos de plástico.
1º noite na cadeia
Cunha se alimentou ontem à noite da mesma marmita oferecida aos demais presos –na qual, segundo um agente ouvido pela reportagem, havia arroz, feijão e frango.
Sobre a ausência de familiares na sede da PF em Curitiba, o advogado informou que essa foi uma orientação da defesa a fim de que sejam preservados tanto a família quanto o ex-deputado.
“Os advogados têm acesso a seus clientes todos os dias, não há nenhum problema nisso, e a PF tem dado um tratamento muito adequado aos advogados e ao réu”, disse, para completar: “Não há previsão da visita de familiares dele, até porque, os ânimos na sociedade estão bastante exaltados e a gente prefere preservar a condição dele e a da família”, declarou Arns, para quem, agora, o objetivo é “discutir juridicamente o caso”.
Ontem, na chegada de Cunha à PF e Curitiba, um grupo de cinco manifestantes o esperou aos gritos de “fala, Cunha” –menção a uma eventual delação premiada, refutada, por ora, pelos advogados –e aplausos ao juiz federal Sergio Moro, que determinou a prisão do peemedebista. Na saída de dois advogados do caso vindos de Brasília, porém, um outro grupo os hostilizou aos gritos de “ladrão” e “vagabundo” e com insinuações de que os honorários seriam fruto de propina.
“Minha equipe estava junto [durante essas agressões] e sofreu essas agressões verbais, bem como a tentativa de agressões físicas. Houve danos no carro de um dos advogados de nossa equipe”, relatou. “Todos têm direito a defesa e a contratar um advogado”, concluiu. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Paraná publicou nota hoje sobre o episódio em que defendeu que “não se confunde, jamais, o papel do advogado com as acusações ou atos imputados a seus clientes”.