Em uma reação de emergência ao rompimento do PMDB, oficializado nesta terça-feira (29), o governo já deflagrou uma operação para “repactuar o governo” com a redistribuição de cargos na Esplanada dos Ministérios como forma de garantir os votos necessários para barrar o impeachment na Câmara dos Deputados.
A ideia é ter, até a próxima sexta-feira (1º), um novo ministério formado e, na próxima semana, realizar a primeira reunião ministerial já com os novos integrantes.
“A decisão chega em boa hora porque oferece à Dilma a ótima oportunidade de repactuar o seu governo. Um novo governo no sentido de que sai um parceiro importante e abre espaço político para uma repactuação de governo”, afirmou o ministro-chefe do gabinete pessoal da presidente Dilma Rousseff, Jaques Wagner. Para ele, esta nova configuração pode dar força ao governo não só para barrar a saída da petista como garantir governabilidade até o fim do seu mandato.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, escalado há duas semanas para atuar como articulador do governo, passou o dia cuidando do rearranjo em conversas com líderes do PP, PR, e um bloco formado por Pros, PHS e PEN. Esses partidos deverão ser compensados com o comando de ministérios e cargos de segundo escalão no governo em troca de apoio no Congresso.
O petista também procurou integrantes do PTdoB, PSL e PTN que poderão herdar postos de segundo e terceiro escalões. O ex-presidente transformou o seu quarto no hotel em que está hospedado em Brasília em um bunker de negociações políticas.
Wagner foi escalado pelo Planalto para oficializar a reação do governo diante do rompimento do PMDB, comandado pelo vice-presidente. Minutos após a decisão do partido, ele foi chamado para uma conversa com a presidente, onde os dois selaram o discurso oficial.
Em entrevista a jornalistas, o ministro repetiu que o processo de impeachment não tem fundamento e, por isso, se trata de um golpe. “E como ele se trata de votos no Congresso, é claro que é uma agenda do governo conquistar esses votos. E a melhor forma de conquistar votos é ampliar o espaço de aliados e fazer uma repactuação”, disse Wagner.
O ministro avaliou ainda que “foi bom” que o PMDB tomasse a decisão pelo desembarque antes que o processo de afastamento da presidente fosse votado pela Câmara, o que deve acontecer por volta de 21 de abril. Ainda assim, o governo espera ter até 25 votos a seu favor de deputados peemedebistas na votação em plenário do impedimento da presidente.
Questionado sobre se a Casa Civil, hoje sem ministro oficial devido ao impedimento de Lula assumir o cargo, poderia entrar também no balaio de cargos em negociação, Wagner afirmou que o Planalto aguarda apenas uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).
“Para esse posto já está convidada uma pessoa que é o ex-presidente Lula. Mas é claro que, se for mantida a decisão do Supremo e ele não puder assumir definitivamente, esse seria um posto a ser negociado”, disse o ministro.
Wagner afirmou ainda que Dilma manterá uma agenda de atividades de governo para fortalecer seu mandato e tentar reverter a crise que a atinge, como a intensificação de entrevistas à imprensa, principalmente a mídia internacional, o lançamento da terceira fase do Minha Casa Minha Vida, as manifestações pró-governo do dia 31 de março, previstas para todo o país, e a preparação de atos com artistas e intelectuais nos moldes do que foi realizado com juristas na semana passada.
“Então, na verdade, o que é bom ficar claro é que hoje há um grande ponto de unidade de segmentos que tem ficado cada vez mais numerosos na luta pela democracia e a manutenção do nosso roteiro de constitucionalidade”, disse.