Williames Pimentel, candidato a prefeito de Porto Velho, recebeu pelo menos 40% das doações de médicos ligados a clínicas contratadas pelo município
Em setembro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) impôs uma significativa mudança nas regras eleitorais ao proibir que empresas turbinassem os cofres das campanhas políticas por meio de doações – as cifras, a exemplo das grandes empreiteiras, podiam chegar a valores milionários nas disputas majoritárias. A decisão visava dar fim a interesses paralelos entre empresários e políticos e vislumbrava revolucionar o formato de financiamento eleitoral, autorizando apenas que pessoas físicas – na teoria, militantes e apoiadores – dessem dinheiro aos candidatos. Na primeira eleição em que o novo modelo é adotado, o resultado até agora demonstra que, na prática, os tradicionais doadores continuam por trás das campanhas.
Um exemplo disso pode ser constatado na prestação de contas do candidato a prefeito de Porto Velho (RO) Williames Pimentel (PMDB). Até esta sexta-feira, ele havia recebido 323.871 reais por meio das doações. Todas, seguindo o rigor da lei, feitas por pessoas físicas – mas mais de 40% delas têm algum tipo de vinculação com o meio empresarial.
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Ex-secretário de Saúde de Rondônia, Pimentel recebeu, até o momento, pelo menos dez repasses de médicos vinculados a famosos centros clínicos de Rondônia: o Instituto de Neurocirurgia e Neurologia da Amazônia Ocidental (Inao) e o Centro Médico-Anestesiológico (CMA) do estado.
No caso do Inao, Bruno Lobo, um dos fundadores do instituto, doou 25.000 reais para o candidato do PMDB. Outros seis médicos que integram a equipe do centro clínico repassaram, juntos, 75.000 reais. Já o CMA tem vínculo com os outros cinco doadores, que, ao todo, investiram 60.000 reais na campanha do peemedebista.
Os dois institutos são conhecidos de Pimentel também na esfera dos negócios. Enquanto secretário de Saúde, de 2012 até este ano, ele firmou uma série de contratos entre o estado e essas empresas. Foram quatro parcerias firmadas com o CMA na sua gestão. Os valores dos contratos chegaram a 16,6 milhões de reais. Já com o Inao, os contratos somaram 13,5 milhões de reais.
Os representantes dos dois institutos já haviam apoiado também a campanha do governador de Rondônia, Confúcio Moura (PMDB), em 2014 – e, em seguida, firmaram contratos com o governo. Aliado de Confúcio, o candidato a prefeito de Porto Velho foi alçado à secretaria de Saúde pelas mãos do peemedebista.
Questionado pela reportagem, Pimentel afirma que não há qualquer “drible” à legislação, que todas as doações estão em conformidade com as regras eleitorais e que não admite apoio de empresas em sua campanha. Ele destaca ainda que não há qualquer expectativa de contrapartida entre as doações e parcerias futuras com o município e que essa seria uma prática “imoral e ilegal”. Pimentel acrescenta ainda que “não exerce pessoalmente a captação de recursos” e que há doadores que sequer conhece.
O site de VEJA tentou contato com representantes do CMA e do Inao, mas não obteve resposta.
Fonte: veja.com
Por Marcela Mattos