Por trás do diabetes pode estar a hepatite C

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Embora pouca gente saiba, pessoas com hepatite C têm uma probabilidade quatro vezes maior de desenvolver diabetes tipo 2, de acordo com a Sociedade Brasileira de Hepatologia. Por outro lado, a resistência à insulina, sintoma característico do diabetes, também agrava o desenvolvimento da hepatite.

O mais crítico dessa relação é que a hepatite C é uma doença sistêmica e silenciosa: 70% das pessoas infectadas não sabem que têm a doença, já que, em 90% dos casos, não há sintoma inicial de infecção, segundo dados do Ministério da Saúde. Isso significa que a doença pode evoluir de forma crônica ao longo de 25 a 30 anos no fígado, sem que o portador perceba sua presença. Nessa fase avançada, as consequências mais conhecidas da infecção são cirrose e câncer de fígado. No entanto, esses não são os únicos males que ela pode causar.

Relação dupla

O vírus é capaz de interferir na efetivação dos níveis de insulina, substância que controla o açúcar no sangue, dificultando o metabolismo da glicose. Essa alteração faz com que o corpo entenda que precisa produzir mais insulina para manter o nível normal de açúcar. Isso significa que, aos poucos, os portadores vão desenvolvendo resistência à insulina e, depois, intolerância à glicose, fase em que a pessoa se torna propensa ao diabetes.

Segundo Edison Parise, professor de gastroenterologia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), vários estudos populacionais nos Estados Unidos mostraram maior resistência à insulina em portadores de hepatite. A resistência à insulina também aumenta o o acúmulo de gordura no fígado (esteatose), o que acaba piorando a progressão da hepatite C, em uma reação em cadeia entre as duas doenças.

O grande problema é que, como a maior parte das pessoas não sabe que tem o vírus, muitos dos que recebem diagnósticos da alteração metabólica não sabem que ela pode ter sido desencadeada pela hepatite C, dificultando o tratamento. A população mais vulnerável, segundo Fabio Marinho, diretor da Sociedade Brasileira de Hepatologia, está na faixa etária entre  40 e 60 anos, já que, até 1989, quando o vírus foi descoberto, sua transmissão por transfusão sanguínea era comum.

Importância do diagnóstico

“Tratar a hepatite C reduz as chances de diabetes tipo 2 e, caso a pessoa já tenha desenvolvido a doença, diminui as complicações, acelera o tratamento e economiza recursos, ao reduzir a necessidade de transplante”, afirma Parise.

“Fazendo um diagnóstico mais precoce, a gente consegue instituir um tratamento mais precoce. O próprio governo dispõe de um arsenal [de medicamentos] importante para a cura”, reitera Sérgio Cimerman, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Tratamento

É importante que o diabético saiba se tem o vírus C para poder prevenir possíveis complicações renais e cardiovasculares. No ranking de países com mais portadores de diabetes, o Brasil está em quarto lugar. E o número de portadores pode aumentar dentro dos próximos 25 anos.

Hepatite C

Estima-se que o Brasil tenha dois milhões de pessoas com a doença. Entre elas, menos de 15% são diagnosticadas e menos de 10% foram tratadas. Entre os países que representam 80% dos casos de hepatite C no mundo, o Brasil está em oitavo lugar – atrás dos Estados Unidos, com a China liderando o ranking.

Apesar da doença ter 95% de chance de cura com um tratamento que dura entre três e seis meses, a taxa de mortalidade se aproxima da tuberculose e já ultrapassou a do HIV, segundo a OMS. Considerando as possíveis complicações da doença, esses dados podem piorar. De acordo com Luiz Turatti, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, o desconhecimento é a principal causa de morte.

Atualmente, o grande desafio contra a doença é encontrar seus portadores. Pensando nisso, a OMS criou o plano de erradicação da hepatite C – NOhep – que visa informar a população, aumentar as taxas de tratamento e eliminar a doença até 2030.

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