BRASÍLIA – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai intensificar sua atuação em Brasília para, informalmente, ajudar o governo na articulação política no Congresso Nacional e bater duro na necessidade de mudanças nas decisões na área econômica. Lula – que tem vindo semanalmente a Brasília – reuniu-se ontem com lideranças petistas, quando voltou a defender a substituição do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.
A avaliação de Lula, segundo relatos de um dos presentes à reunião, é de que “houve um refresco na área política”. Para Lula, “se não houver avanço na área econômica apontando que vamos sair dessa crise, a [crise] política pode retornar ao ponto anterior”. Ele se referia ao movimento pelo impeachment.
Um interlocutor de presentes à conversa contou que a intenção de Lula nas incursões a Brasília é “ajudar o Palácio do Planalto a articular as lideranças”, além de insistir na mudança da política econômica e na troca do ministro Joaquim Levy por Henrique Meirelles.
Embora insista na tese, Lula chamou a atenção do PT pelos vazamentos das notícias que revelam estar o governo preparando a troca de ministro da Fazenda para o fim do ano. Essa troca já foi abortada uma vez, há cerca de um mês, quando um dirigente do partido a anunciou em uma entrevista, e o novo momento de mudança, também revelado agora, irritou a presidente Dilma Rousseff, que não gosta de agir sob pressão.
De qualquer forma, como a flexibilização da política econômica, com a adoção de medidas para liberação do crédito, é uma estratégia prevista para a virada do Ano Novo, acredita o ex-presidente que ainda há tempo de apaziguar os ânimos.
No momento de maior intensidade do noticiário sobre a substituição de Joaquim Levy por Henrique Meirelles, o ex-presidente decidiu, na volta da Colômbia, fazer uma escala em Brasília na quarta-feira à noite. Lula disse aos líderes com quem se reuniu que está contrariado com o vazamento de notícias sobre a nomeação do ex-presidente do BC para o comando da economia e pediu aos parlamentares que evitem comentar o assunto. A avaliação é de que Levy ganhou sobrevida no cargo, após o vazamento da sua articulação em torno de Meirelles.
Desta vez, Lula e Dilma – que está contrariada com os vazamentos sobre Meirelles – não se encontraram, ao contrário das últimas semanas. O ex-presidente tem aterrissado na capital federal uma vez por semana, e invariavelmente reúne-se com sua sucessora para discutir os desdobramentos da crise política.
Nas duas últimas semanas, Lula se reuniu com Dilma, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, e o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, que têm sido seus interlocutores constantes no governo. Na semana em que participou da reunião do Diretório Nacional do PT, Lula jantou com Dilma, Wagner e Berzoini no Palácio da Alvorada. E na sexta-feira, depois de participar da Conferência de Segurança Alimentar (Consea), Lula tomou café da manhã com Dilma, Wagner e Berzoini na residência oficial.
Desta vez, reuniram-se na manhã de ontem, com Lula, no hotel onde ele costuma se hospedar em Brasília, entre outros aliados, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), o líder do governo na Comissão Mista de Orçamento (CMO), deputado Paulo Pimenta (PT-RS), e auxiliares do ex-presidente.
O Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, apurou, com interlocutores do grupo, que a avaliação geral foi de que Levy saiu fortalecido das notícias de que Meirelles poderia substituí-lo, porque Dilma irritou-se pela segunda vez com o novo vazamento das articulações.
Outra avaliação do grupo é de que a vitória de Levy na Comissão Mista de Orçamento é prejudicial ao governo, porque contingenciaria recursos que deveriam ser voltados ao investimento.
Segundo relatos de um dos presentes na reunião ao Valor PRO, Lula defende para o comando da economia um nome com o “perfil” de Henrique Meirelles, que resgate a política de ampliação do crédito, a retomada das obras públicas, e simultaneamente, tenha o aval instantâneo do mercado financeiro e recupere a confiança dos investidores.
Por Andrea Jubé e Thiago Resende – Valor Econômico