Albert Fishlow: PIB per capita do país será, em 2020, igual ao que era em 2010
O Brasil deverá registrar uma nova década perdida, em 2020, avaliou Albert Fishlow, professor de relações internacionais da Universidade de Colúmbia. “Falando do futuro, temos que lembrar que o PIB per capita do Brasil será, em 2020, igual ao que era em 2010. Então, independentemente do que acontecer, será uma década perdida”, disse o professor, durante debate realizado no Conselho de Relações Internacionais (CFR, na sigla em inglês), em Nova York.
Segundo Fishlow, conhecido por ser um estudioso do Brasil, mesmo que o governo inicie reformas, elas só deverão ser sentidas no longo prazo. O problema, para ele, é que não parece que o governo tenha intenções de fazer reformas no longo prazo, como em três ou quatro anos, mas apenas para o curto prazo, que ele estimou em 12 a 18 meses.
“Mesmo se adotarmos uma noção otimista de recuperação, começando a partir de 2017, com níveis correntes de investimentos e assumindo níveis mais altos de recuperação, ainda estaríamos encarando a realidade de um crescimento baixo. Será uma década perdida”, disse.
Fishlow criticou a adoção das medidas de curto prazo que foram implementadas no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff para estimular o crédito e o consumo, sem a efetivação de reformas que ajustariam as contas do país, caso da Previdência Social. “A solução não é usar os bancos públicos”, afirmou ele, referindo-se à concessão de crédito. “Por um tempo, você consegue acelerar o crescimento, mas, depois, terá inflação e outros problemas. “
Ele lembrou que reformas de pouca duração foram implementadas na década de 80, com os planos econômicos, e não tiveram sucesso. “O que precisamos é de realismo para evitar que, ano após ano, tenhamos que fazer novos planos e eles acabem se transformando naquilo que foi o Plano Cruzado e nos subsequentes.”
Por outro lado, Fishlow reconheceu as dificuldades políticas para se fazer um ajuste fiscal, lembrando que o país tem despesas vinculadas no Orçamento, como em saúde e educação. “É difícil para os políticos implementar um ajuste fiscal, pois ele também significa recessão e desemprego.”
Outro problema, segundo ele, é que, apesar de o país aumentar os gastos sociais, o governo não refletiu adequadamente sobre como seriam pagas as despesas e, por isso, passou-se a discutir aumento de impostos. “Quando dizem que vão coletar mais dinheiro por dois anos, isso vira seis, sete, oito anos e, então, torna-se necessário aprovar mais impostos”, avaliou. “Deveria ser aceito que o governo tem um limite máximo para gastos.”
Para o professor, o país necessita de liderança política capaz de lidar com esses desafios. “A recuperação do país vai depender da organização de lideranças e também da habilidade de fazer reformas políticas”, afirmou, citando como exemplo a necessidade de reduzir o número de partidos. Fishlow acha que a reforma política deveria ter sido aprovada na década passada, mas não foi seriamente discutida porque o Brasil viveu um período de crescimento.
“O que se precisa é reduzir o número de partidos políticos e não aumentá-los. É preciso voltar à discussão anterior sobre quantos partidos são necessários para se ter representatividade”, afirmou Fishlow. “Essas questões surgiram no passado e foram ignoradas. Elas foram ignoradas por causa do crescimento que aconteceu, após a desaceleração ocorrida com a crise energética no fim da era FHC (2001). Agora, é preciso fazer uma reforma política.”