Especialista em Transtornos do Espectro do Autismo (TEA), a psicologa Maria Emília Grachi Fonseca disse, na tarde dessa quarta-feira (6) ao ministrar palestra sobre o tema a profissionais da educação e da saúde, em Porto Velho, que não é mais aceitável deixar meninos nessa condição só para a escola especial. Sua experiência na área soma 25 anos de atuação, inclusive com o movimento apeano (Apaes), fundado por seus pais em sua cidade na década de 60.
“Até porque não tem mais vaga, não. É preciso entender que independente da escola em que essa criança está, o que ela precisa é de educação. Não basta estar na escola, tem de aprender. Não basta socializar essas crianças, isso é um discurso ultrapassado. Quer socializar? Leva no parque, no player, na casa da vó, na igreja. Deixa a escola voltar a fazer o que foi determinada a fazer, transmitir conhecimento”, disse Maria Elisa, mestre em Educação Especial pela Universidade de São Carlos.
A palestra de Maria Elisa Grachi inaugurou a atuação da Escola de Governo de Rondônia.
Segundo ela, não há terapia de psicólogo algum para eliminar o autismo, mas é possível fazer modificação de comportamentos, como o da criança que berra e grita. “É um problema para todas as áreas, e devemos trabalhar a comunicação alternativa antes da fala. Até porque 80% dos casos nunca irão falar. Cabe a nós salvar a vida das pessoas, e todos podem ajudar dentro da escola. A técnica cabe aos especialistas”, disse.
O TEA é uma condição geral para um grupo de desordens complexas do desenvolvimento do cérebro, antes, durante ou logo após o nascimento. Esses distúrbios se caracterizam pela dificuldade na comunicação e comportamentos repetitivos. Maria Elisa clinica e atua na difusão do método Teacch, desenvolvido na Universidade da Carolina do Sul (EUA), que no Brasil pode ser traduzido por Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits.
O método é um programa educacional e clínico com uma pratica psicopedagógica, criado a partir de um projeto de pesquisa que acompanhou profundamente comportamento de crianças autistas em diversas situações frente a estímulos distintos. Maria Elisa disse que o método tem ajudado o autista a adequar-se dentro de suas possibilidades à sociedade, promovendo sua independência em função de suas dificuldades. “Por isso é importante saber o que ele gosta de fazer”, disse.
“Uma criança com autismo grave hoje pode não ser mais daqui a cinco anos; varia de pessoas e grupos também. Nós educadores precisamos nos capacitar para atender. Ensinar as pessoas autistas na busca da perfeita cidadania. Esses meninos ficaram marginalizados durante séculos”, disse Maria Elisa, lembrando que o autismo está no cérebro, não é doença mental “que você vai fazer terapia e sara”.
A queixa dos profissionais da educação é que na grade curricular de formação é reduzida a carga horária para ensino especial, observado inclusive pela secretária estadual da Educação Fátima Gavioli. Há pouco tempo no magistério, é o que enfrenta Diandra Pontes, 28 anos, que tem três crianças autistas na escola municipal Maria Isaura.
“Desde o primeiro dia foi uma surpresa porque as crianças caem de paraquedas mesmo. Você se forma para uma coisa, e se depara com crianças que não sabe lidar, trabalhar, porque não foi capacitada e no currículo da faculdade não tem isso. Você vai ter de se auto descobrir . A escola ajuda, fala onde tem cursos, orienta um pouco. Mas além de mim, tenho de preparar meus alunos para receber essas crianças”, afirma Diandra, que conta com um professor assistente em sala de aula. Seus alunos têm diferentes níveis de autismo – leve, moderado e severo.
Para a professora, a palestra foi muito útil. “Eu vi meus três alunos várias vezes enquanto Maria Elisa falava. Agora a gente vai compreender melhor eles, tem uma perspectiva de ter uma pós na área agora, e acabo me interessando mais por isso. Quero ser melhor para passar para meus alunos, entender a técnica dela”, declarou Diandra, pedindo maior assistência do poder público para as escolas que recebem alunos com TEA.
DOIS MILHÕES DE AUTISTAS
Maria Elisa declarou que existem no Brasil aproximadamente 2 milhões de autistas, mas acredita que o número é três vezes maior por causa da ausência de diagnóstico. “Existem algumas condições neurológicas associadas ao autismo que leva muitas crianças a se estragarem tanto a ponto de ficar 24 dias sem comer, sete dias sem dormir, então precisamos oferecer alternativas de sobrevivência. São casos de defesa sensorial que acabam entrando na restrição alimentar, a criança fica internada, não funciona o intestino. O autismo é problema de saúde pública”, declara.
Pai de Sairon Almeida, de 13 anos, autista diagnosticado com grau leve, o administrador hospitalar Ronildo Arcanjo, gostou da palestra e disse que irá entrar em contato com a palestrante para obter sua contribuição em projeto que pretende criar em Porto Velho para atender crianças autistas.
Para diagnóstico do autismo, os cientistas e médicos consideram dois manuais, um ligado à Organização Mundial de Saúde (OMS), o CID, que esta na decima edição e descreve outras doenças, e o DSM, vinculado à Associação Americana de Psiquiatria, na quinta edição, que abrange problemas mentais e de comportamento. A grande diferença, segundo a palestrante, é que a CID sementa e tem cinco classificações e o DSM tem três. Quanto maior a nota pior o quadro de autismo.
Fonte: Secom – Governo de Rondônia