Por estes dias, e especialmente nestes dias de março que tanto afloram as honrarias às mulheres, me pego a imaginar como seria uma homenagem ideal a elas. Que palavras poderiam traduzir os sentimentos de gratidão, apenas gratidão. Nada de textos melancólicos de enaltecimento, nada de delongas e rodeios em torno de sua figura, gratidão apenas. Poderia compará-las às Mulheres de Atenas, Chico Buarque sim, sabia como ninguém expressar seu pensar a respeito, ou não concordam que ao cantar “Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas Quando amadas, se perfumam Se banham com leite, se arrumam (…)” Chico coloca a mulher como um elmo protetor dos homens? Embora concordamos que neste caso, “Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas” não chega a ser um hino feminista.
Poderia me fazer uso da poesia, quantas lágrimas e suspiros já inspiraram declarações de amor às mulheres, que o digam Drummond, Pessoa, Jobim. Más confesso, poesia não é uma de minhas melhores atribuições, por isso, não ousarei. Zé Ramalho sem dúvidas consegue expressar sua gratidão, afinal “Se não fosse a mulher mimosa flora história seria mentirosa”, representa bem os sentimentos dos infortunados de inspiração.
Claro, também poderia escrever um texto relacionando a figura feminina com o fatídico 8 de março de 1857, quando um grupo de operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. Neste caso, sem dúvidas seria um texto à altura, pena não ser autêntico, esta história é revisitada todos os anos, em vários níveis de ensino nas escolas.
Bem, exemplos não nos faltam para corroborar com a ideia de gratidão a qual pretendo expor, poderia engrandecer com histórias de Jucilenes, Cecílias, Maunícias, Izis, Marias… Quantas sustentaram a família com honradez e suor, tornando-se pilares de uma sociedade cada vez mais carente de valores.
Porém tenho trilhado nos caminhos da História e, como historiador não poderia deixar de buscar exemplos em nossa gênese, exemplos de mulheres que engrandecem nossa História com bravura e honradez, sem dúvidas Marise Castiel e seu trabalho no extinto Território, seu passado de luta na educação, administração pública e política.Como não exemplificar Rita Furtado, onde nos idos dos anos 80, sua voz e postura ética conquistou a população de Rondônia, sendo eleita para Deputada Federal por duas vezes, tornando-se na época, a deputada mais votada no país, proporcionalmente.Quantos modelos! Mulheres que muitas vezes tão mais humanas do que os próprios seres humanos.
Tão particulares, tão amigas. Mesmo que haja sentimentos ruins, egoísmos e coisas que acabem muitas vezes tirando o brilho de ser, não há porque não reconhecer que mulheres são corajosas. Não temem mostrar o que sentem, não temem cuidar do que amam. São mais do que estereótipos, são mais do que definições.
Então, por mais que hoje e este mês seja um período simbólico e cheio de clichês, Mulheres, esse texto é para vocês.
Para que se lembrem todos os dias que o mundo seria muito sem graça sem vocês. Sem o carinho de mãe, o abraço de uma amiga e o amor de uma esposa. Não é preciso um dia para lembrarmos que são vocês que deixam tudo mais charmoso e mais bonito. Não é preciso um dia para lembrarmos que vocês são muito mais do que disseram ser. Muito mesmo.
Obrigado, mulheres.
Obrigado por nunca terem desistido de todos nós. Por não se acharem melhores ou mais fortes, por não serem intolerantes ou brutamontes.
Obrigado por simplesmente serem vocês. Por gerarem a vida, cuidarem dela e ainda nos dar um motivo para acreditar que o coração é maior do que qualquer coisa nesse mundo. Por muitas vezes abrirem mão de “vocês” para que possamos nos sentir mais “nós.”
Obrigado.
Por: Célio Leandro da Silva*
*Professor e mestre em História pela PUC/RS.