Padre José Afonso Dé, condenado por estupro por nove adolescentes em Franca (SP), em 2010
Condenado a mais de 60 anos de prisão por abuso sexual a adolescentes coroinhas, o padre José Afonso Dé morreu na tarde desta quinta-feira (14), aos 82 anos, em Franca (400 km de São Paulo).
Ele passava por tratamento contra um câncer de próstata e há cerca de 30 dias foi internado na Santa Casa da cidade, com um quadro de pneumonia.
Conhecido como padre Dé, seu caso foi listado em meio a uma extensa lista no final do filme “Spotlight – Segredos Revelados”, que retratou uma investigação jornalística de como a cúpula da Igreja Católica acobertou casos de pedofilia nos Estados Unidos.
Ao final do filme, é exibida uma lista com cidades em que padres foram acusados de cometer abusos contra crianças, incluindo Franca, além de Arapiraca (AL), Mariana (MG) e Rio de Janeiro.
Padre Dé estava oficialmente afastado das funções, mas continuava seu trabalho de evangelização recebendo fieis em sua casa. O velório acontece na capela do Asilo São Vicente, ao lado do velório central de Franca. Nesta sexta (15), às 14h, haverá uma missa de corpo presente, seguida do sepultamento no cemitério Santo Agostinho.
Segundo seu advogado, José Chiachiri Neto, o padre estava em coma há pouco mais de 15 dias e, antes de ser hospitalizado, estava psicologicamente bem.
“Ele foi um grande homem e encarou as vicissitudes com muita coragem, não se deixando ficar deprimido”, afirmou Chiachiri. “Teve um certo abatimento depois da condenação em primeira instância, mas quando foi para a segunda, ele se restabeleceu e continuou seu trabalho junto aos fieis, dando aula sobre religiosidade em sua casa”.
Em 2010, padre Dé foi denunciado pelo Ministério Público Estadual pela suposta prática de crimes sexuais contra nove coroinhas que o auxiliavam na paróquia São Vicente de Paulo.
No ano seguinte, foi condenado pela 2ª Vara Criminal de Franca a 60 anos e oito meses de prisão por estupro e atentado violento ao pudor. Com recurso acolhido pelo TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo, ele respondia em liberdade.
A defesa alegou que, após a condenação, o padre acabou sendo absolvido em sete das nove acusações de abuso sexual das quais era acusado.
O religioso sempre alegou inocência e aguardava o desfecho dos outros dois processos para decidir se iria processar ou não os produtores do filme “Spotlight” pela inclusão de seu caso na chamada “Lista da Vergonha”.
Segundo o advogado, na ocasião, argumentou que os atos praticados pelo religioso não tiveram conotação sexual.
Na opinião de Chiachiri Neto, a pena dada ao padre Dé era uma “aberração”, uma vez que o religioso nem teria condições de cometer abusos por ter feito uma cirurgia de câncer de próstata há mais de 15 anos e, desde então, ser impotente sexual.
Fonte: Folha