Nesta terça (22) e quarta-feira (23), os 14 grupos de autocuidado de Rondônia estarão reunidos no Hospital Santa Marcelina, em Porto Velho, para a troca de conhecimentos sobre prevenção e tratamento da hanseníase. A iniciativa faz parte de uma parceria da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), Hospital Santa Marcelina e a ONG NHR Brasil, filial brasileira da organização holandesa NLR – Fundação Neerlandesa de Combate à Hanseníase.
O estado é considerado endêmico para os casos da doença. De acordo com a Agência de Vigilância em Saúde (Agevisa), foram registrados 578 casos em 2015, e neste ano, conforme balanço parcial, já são mais 406 novos casos.
Uma doença silenciosa, geralmente demora de dois a sete anos para o aparecimento dos primeiros sintomas, que são manchas, diminuição da sensibilidade, caroços e inchaços pelo corpo; dor ou sensação de choque nos nervos dos braços, mãos, pernas e pés.
Ao contrário do que muitos pensam, a doença não é transmissível com aperto de mãos ou abraço. Também não é preciso separar roupas, pratos, copos e talheres dos que apresentam a hanseníase. A transmissão acontece por meio das vias respiratórias (tosse, espirro) e de contato prolongado. A doença tem cura e o tratamento é feito através de coquetel de antibióticos. Após a primeira dose da medicação o doente não transmite mais a doença.
Dois pacientes e dois coordenadores de cada grupo de autocuidado de hanseníase estarão presentes no primeiro encontro organizado para a troca de experiências sobre o tema que acontecerá na capital. Dos 14 grupos do estado, dois atuam em Porto Velho, no Hospital Santa Marcelina e Policlínica Oswaldo Cruz; e os demais em Vilhena, Cacoal, Pimenta Bueno; Rolim de Moura, Jaru, Ministro Andreazza, São Miguel do Guaporé, Ariquemes, Guajará-Mirim, Ouro Preto do Oeste, Ji-Paraná e Monte Negro.
Durante o ‘‘Encontrão’’, cada grupo de autoajuda apresentará suas experiências e profissionais farão palestras sobre os temas mais importantes no enfrentamento da hanseníase. De acordo com o coordenador do Programa de Hanseníase do Hospital Santa Marcelina, Cleumar Nascimento, os grupos de autocuidado são responsáveis por orientar os pacientes quanto à adoção de medidas simples que ajudam a evitar complicações da doença.
REFERÊNCIA
O grupo de autocuidado do Santa Marcelina é considerado referência de bons resultados em Rondônia e é o único inclusivo do estado, pois além de tratar da hanseníase, também cuida dos diabéticos e amputados. A inciativa foi criada em 2015 através de parceria com a ONG NHR Brasil e com a participação de cerca de 20 pacientes aos cuidados de uma equipe multiprofissional.
O hospital, que já é referência há décadas em tratamento de hanseníase na região Norte do Brasil, também se destaca através do grupo de autocuidado. ‘‘A intenção do grupo é fazer com que através da nossa equipe multiprofissional que há psicologia, fisioterapia, nutrição, enfermagem e serviços social, eles sejam orientados sobre temas que ajudem eles a terem uma melhor qualidade de vida em casa’’, afirmou o coordenador.
Por ser referência na região, o grupo do Santa Marcelina participou da implantação das demais iniciativas no estado e esse encontro também servirá para avaliar até que ponto o grupo evolui na orientação de autocuidados.
OFICINAS
Além dos encontros mensais, o grupo de autocuidado do Santa Marcelina oferece oficinas que ajudam os pacientes a se adaptarem às limitações que a doença causa sem perder a qualidade de vida. ‘‘A premissa do Ministério da Saúde é trabalhar face, mãos e pés que é onde a hanseníase mais afeta. E nós adaptamos também nas oficinas. Nós fizemos oficina de ovos de páscoa e trufas, e eles vão à prática aprender a fazer esses produtos dentro da limitação que cada um tem. E aí entra nossa equipe multiprofissional para fazer a adaptação necessária para que eles realizem as tarefas’’, contou Cleumar Nascimento, adiantando que o grupo também participou da oficina de como ter uma horta em casa e de terapias ocupacionais.
Outro tema que ganha destaque, quando o grupo se reúne, é a alimentação. Os participantes recebem instruções de quais alimentos ajudam no processo de cicatrização, e ainda aprendem como fazer curativos em casa e os cuidados com o corpo. ‘‘Assim como o paciente diabético, o que tem hanseníase também perde a sensibilidade, e a chance dele se machucar é muito grande e a cicatrização é muito difícil. Então, a partir do momento que trabalhamos no grupo esses cuidados, evitamos complicações, como, por exemplo, amputações’’, disse.
Valmir Pereira, 68 anos, teve que amputar uma das pernas devido às complicações da diabetes. Ele participa do grupo de autoajuda do hospital Santa Marcelina desde quando foi criado. Valmir conta que com 16 anos teve um ferimento na perna que nunca cicatrizou. ‘‘Eu morava na área rural, a medicina lá não é boa, e usava remédios caseiros para tratar da ferida que só crescia’’, contou.
Ele ficou sabendo que se tratava de diabetes há pouco tempo. Foram décadas lutando contra a doença, que assim como a hanseníase, é silenciosa. Com o grupo de autocuidados, Valmir mudou até a rotina. ‘‘Faço curativo três vezes ao dia, cuido dos meus pés e da minha mão. Não deixo as unhas grandes, pois podem me machucar e demora para cicatrizar’’, afirmou dizendo estar satisfeito em participar das oficinas e das atividades propostas pela terapia ocupacional.
Com o fortalecimento de grupos de autocuidados, pessoas como Valmir terão acesso a informações que evitem complicações como a que ele passou – a amputação – e também reduz bastante a chance de o paciente precisar ficar internado. O coordenador alerta a população para que faça o autoexame. ‘‘Se olhem no espelho, observe o seu corpo, e se perceber algum sinal diferente procure imediatamente uma unidade de saúde”, orientou.
Fonte: Secom – Governo de Rondônia