PF prende José Carlos Bumlai, amigo de Lula

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A Polícia Federal iniciou na manhã desta terça-feira (24) a 21ª fase da Operação Lava Jato. O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi preso em um hotel de Brasília. Ele iria depor nesta tarde na CPI do BNDES.

Bumlai, que já foi um dos maiores criadores de gado do país, tornou-se alvo das investigações da Lava Jato depois que dois delatores relataram que ele teria repassado recursos para uma nora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ajudado a quitar dívidas do PT, o que ele nega ter feito.

Segundo o advogado do pecuarista, Arnaldo Malheiros Filho, dois filhos de Bumlai, Maurício e Guilherme, foram levados à PF de Brasília, em condução coercitiva, para prestarem depoimento nesta terça.

Malheiros Filho disse que ainda não sabe as acusações contra seu cliente e que, portanto, não poderia comentar a ação.

O juiz federal Sergio Moro autorizou uma diligência de busca e apreensão no frigorífico Bertin (Tinto Holding) para coleta de provas relativas à prática pelos investigados dos crimes de corrupção, peculato, lavagem de dinheiro e de falsidade, além dos crimes antecedentes à lavagem de dinheiro.

Natalino Bertin e Silmar Roberto Bertin, controladores do frigorífico Bertin, foram levados pela PF para prestarem depoimento.

A secretaria da CPI foi comunicada pela 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelas investigações da Lava Jato, sobre prisão de Bumlai e que, por isso, ele não poderia comparecer ao depoimento. Outra data deve ser marcada posteriormente.

Segundo as primeiras informações, ele estava bastante tranquilo durante a ação da PF que ocorreu no hotel Golden Tulip, localizado a poucos metros do Palácio da Alvorada. Bumlai foi levado para o aeroporto de Brasília, de onde seguiu em uma aeronave da PF para a Superintendência de Curitiba (PR).Bunlai2

No hotel em Brasília, os agentes da PF chegaram a procurar documentos do empresário. Entre os mandados, também estão buscas em escritórios de Bumlai.

A PF ainda esteve na sede do BNDES no Rio. Pediu contratos pontuais e já saiu do banco com todos eles.

A operação desta terça, chamada de Passe Livre, ocorre nas cidades de São Paulo, Lins, Piracicaba (SP), Rio de Janeiro, Campo Grande, Dourados (MS) e Brasília. Escritórios de Bumlai estão entre os alvos da ação.

NAVIO-SONDA

Segundo a PF, as investigações da nova fase têm como foco a contratação de um navio-sonda da Petrobras “com concretos indícios de fraude no procedimento licitatório”.

“Complexas medidas de engenharia financeira foram utilizadas pelos investigados com o objetivo de ocultar a real destinação dos valores indevidos pagos a a agentes públicos e diretores da estatal”, de acordo com a polícia.

O empresário foi descrito pelo delator da Operação Lava Jato Fernando Soares, o Baiano, como uma espécie de lobista na Sete Brasil, empresa que administra o aluguel de sondas para a Petrobras no pré-sal. Em depoimento, Baiano disse que em 2011 era representante da empresa OSX, de Eike Batista, que tentava obter contratos na Sete Brasil.

Eike nega que Baiano e Bumlai tivessem vínculo com empresas de seu grupo.

O delator afirmou, em depoimento à PF, que Bumlai recebia propina para mediar negócios no setor de petróleo. Baiano, de acordo com o documento, procurou ajuda do pecuarista porque soube que ele tinha proximidade com o ex-ministro Antonio Palocci.

Bumlai, em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”, afirmou que levou o presidente da Sete Brasil a um encontro com Lula, mas negou ter providenciado benefícios a parentes dele.

O pecuarista ainda repetiu a versão de que os recursos que recebeu do lobista Fernando Soares eram referentes a um empréstimo, sem contrato assinado e jamais saldado, pedido ao lobista para quitar dívidas com trabalhadores de suas terras.

DÍVIDA

Ele ainda nega ter intermediado o pagamento de uma dívida do PT com o Banco Schahin, como descrito Salim Schahin, também delator na investigação, citando relatos de executivos do grupo.

O novo delator diz que perdoou um empréstimo de R$ 12 milhões que havia feito ao pecuarista em 2004 em troca de um contrato de R$ 1,6 bilhão com a Petrobras. Bumlai teria intermediado o negócio. O valor não pago ao banco foi para o PT, na narrativa do delator.

O empréstimo foi feito pelo Banco Schahin, mas não foi quitado. Para compensar a dívida, Bumlai teria ajudado o grupo a conseguir o contrato de um navio-sonda com a Petrobras. Outros dois delatores da Lava Jato (Fernando Soares e Eduardo Musa) contaram versão similar.

Bumlai negou e disse ter como provar isso com documentos. A versão dele é que pegou emprestados R$ 12 milhões para comprar uma fazenda, o negócio não deu certo e o vendedor devolveu-lhe R$ 12,6 milhões em três anos.

Em entrevista, ele afirmou que esteve três vezes no gabinete de Lula quando ele foi presidente e que ajudou a mostrar a empresários que o petista não era “um monstro”.

SUSPEITOS

Os investigados na nova fase são suspeitos pela prática dos crimes de corrupção passiva e ativa, tráfico de influência, lavagem de dinheiro, fraude a licitação, falsidade ideológica e falsificação de documentos.

Os mandados estão sendo cumpridos por 140 policiais federais e 23 auditores fiscais.

Fonte: Folha

Obra da rodovia PORTO VELHO/MANAUS já pode ser retomada

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O presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, desembargador federal Cândido Ribeiro, suspendeu liminar proferida pela 7ª Vara da Seção Judiciária do Amazonas, que havia determinado a paralisação das obras na rodovia BR-319, que liga Manaus e outros municípios do estado à Porto Velho/RO e à rodovia Transamazônica (BR-230). Dessa forma, as obras poderão ser retomadas.

O processo teve início quando o Ministério Público Federal entrou com ação civil pública, requerendo a paralisação das obras de manutenção na BR. Segundo o MPF, fiscalização realizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) averiguou irregularidades no empreendimento, já que o Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (Ipaan) não seria o órgão competente para conceder licença ambiental para a realização da obra, mas, sim, o próprio Ibama, porque a rodovia abrange dois estados. Ao analisar a ação, o juízo da 7ª Vara Federal em Manaus/AM determinou, liminarmente, a suspensão das obras. BR319a

Inconformado, o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (DNIT) buscou o TRF da 1.ª Região, alegando que a medida causa grave lesão à ordem econômica, social e administrativa – vez que a decisão judicial impediu a continuidade do serviço prestado pelo DNIT – e que a manutenção de rodovias se insere no âmbito dos deveres jurídicos da Administração Pública.

Ao analisar o pedido, o presidente do TRF1, desembargador Cândido Ribeiro, concordou com o DNIT e deferiu o pedido de suspensão da tutela antecipada (liminar). Assim, as obras na BR-319 poderão ser retomadas.

De acordo com o presidente, a medida pretende evitar que o cumprimento da liminar anteriormente proferida, em primeira instância, resulte em graves danos públicos. O magistrado destacou que, como as obras da rodovia já estavam em andamento, a sua paralisação pode representar um risco maior ao meio ambiente do que aquele que a decisão de primeira instância tentava evitar.

“A grave lesão à ordem econômica também está presente. É que, além de não serem desprezíveis os gastos já despendidos pelo DNIT para a sua realização, a paralisação da obra impõe grande prejuízo financeiro decorrente da inoperância de máquinas, dos canteiros e da mão de obra contratada”, explicou.

O presidente do Tribunal destacou, ainda, o fato de o empreendimento ligar a cidade de Manaus à de Porto Velho, bem como Manaus e boa parte do Amazonas à Rodovia Transamazônia (BR-230), que corta o país até o seu extremo oriental. “Trata-se de importante obra de infraestrutura, que permitirá o desenvolvimento socioeconômico da região, porquanto a rodovia atenderá à necessidade de escoamento da produção amazonense e rondoniense e locomoção mais segura da população”.

Para o desembargador, “há que se ter em mente que o Poder Judiciário, ao interferir nas atividades administrativas do Poder Público, deve fazê-lo à luz dos postulados a ela inerentes, a fim de não impedir que o Estado atinja com eficiência as suas finalidades”.

Processo nº 0061448-81.2015.401.0000

Assessoria de Comunicação Social

Tribunal Regional Federal da 1ª Região

Juiz propõe câmaras especiais para combate à corrupção

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Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO – 23/11/15

Por FAUSTO MACEDO, JULIA AFFONSO e MATEUS COUTINHO

O juiz Jayme Martins de Oliveira Neto, reeleito presidente da Associação Paulista de Magistrados, neste sábado, 21,, pela chapa única ‘Apamagis Forte’, afirma que a ‘corrupção é questão de formação moral, de um lado, e de efetividade das leis e da Justiça, por outro’. Para ele, ‘o combate à corrupção começa em casa, na educação que se dá aos filhos, na valorização do respeito ao outro, na cultura da fraternidade, da solidariedade…’.

Jayme Martins de Oliveira Neto avalia que a solução para a enxurrada de 100 milhões de ações que travam os tribunais está ‘na tomada de consciência daqueles que detêm o poder estatal’. “Todos sabem que o sistema recursal vigente no país é absurdo, feito para as demandas não terminarem. Os grandes litigantes são conhecidos e o Estado é um deles e nada se faz em relação a isso”, atesta o magistrado.
O presidente reeleito da maior e mais importante entidade de classe estadual dos juízes considera que ‘os Juizados Especiais precisam retomar seu protagonismo e sua destinação histórica, pois foram atropelados pela estrutura burocrática’.

Indagado se, como cidadão, considera que o deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ) deve renunciar à presidência da Câmara, o magistrado disse que ‘a renúncia é um ato de vontade interna, pessoal’.

Jayme de Oliveira, reeleito presidente da Apamagis
Estadão: O Brasil conta 100 milhões de processos nos tribunais. Que solução o sr vê para esse quadro?

Juiz Jayme Martins de Oliveira Neto: A partir de 1988, com a abertura democrática e a nova Constituição, surgiu uma consciência popular de defesa dos direitos e o Judiciário foi descoberto pelo povo. Isso revela confiança na Justiça; mas o Judiciário não estava preparado para esse volume de processos e o que se percebe a cada ano é um aumento no estoque. Ocorre que 100 milhões de processo não podem ser vistos apenas como números, afinal são 100 milhões de conflitos, de desavenças, desajustes no meio social. E essas 100 milhões ou mais de pessoas esperam uma decisão justa, proferida por um juiz isento, preparado, dedicado e que lhe dê um mínimo de atenção.

A solução passa por uma tomada de consciência daqueles que detêm o poder estatal. Todos sabem que o sistema recursal vigente no país é absurdo, feito para as demandas não terminarem. Os grandes litigantes são conhecidos e o Estado é um deles e nada se faz em relação a isso. Os Juizados Especiais precisam retomar seu protagonismo e sua destinação histórica, pois foram atropelados pela estrutura burocrática. A mediação e a conciliação precisam assumir verdadeiro papel de destaque.

Estadão: O Estado é o grande litigante que trava os tribunais. Como contê-lo?

Juiz Jayme Martins de Oliveira Neto: O Estado se utiliza da burocracia judicial. A cada ano, milhões de processos são despejados no Judiciário pelo Executivo. E ninguém quer discutir isso em profundidade. Modelos mentais do século passado e que nos formaram nas universidades impedem soluções novas, criativas. O homem é conservador por natureza e tem medo de mudanças. Sem que prefeitos, governadores e presidentes enfrentem a questão nada mudará. A mediação e a conciliação precisam ser absorvidas sem medo também na seara do direito público. O Judiciário não pode ser mais o cobrador do Poder Executivo e a execução fiscal deve tramitar no próprio Executivo, ao menos até a penhora. O juiz somente deve ser chamado para resolver o conflito. E as decisões precisam de efetividade. Com esse número de recursos e com a cultura de que o Estado tem de recorrer sempre, o quadro não mudará.
Estadão: Qual sua meta principal pelos juízes?

Juiz Jayme Martins de Oliveira Neto: Trabalhar cada vez mais pelo aprimoramento do Poder Judiciário, nos limites de atuação de uma associação. Queremos um Judiciário mais forte e independente, que trabalhe com um volume de processos razoável. Nenhum juiz está feliz com o quadro atual, pois nossa destinação é servir ao povo, distribuir justiça nos limites da nossa consciência e formação. Queremos ouvir as partes, os advogados, queremos pacificar litigantes, julgar com rapidez. Mas como? Não há mágica. Os servidores estão esgotados, a estrutura é precária, a legislação muda sem maiores reflexões e há um limite humano para o trabalho. Então nosso papel é dialogar com os poderes constituídos e buscar soluções.

O Poder Judiciário dos Estados é o que tem a maior carga de processos e para isso basta olhar as estatísticas do CNJ. Para além do número de processos, os juízes realizam milhões de audiências anualmente e isso não é considerado ou contabilizado. Os governantes precisam respeitar o pacto federativo e valorizar os Tribunais de Justiça que não podem ser meros tribunais de passagem de autos.

Na Justiça dos Estados temos as competências que dizem mais de perto com a vida da população São as questões de família, os crimes contra a vida e o patrimônio, a delinquência juvenil, a defesa do consumidor, entre tantas outras que dizem diretamente com a vida das pessoas e por isso é preciso valorizar esse trabalho, essa Justiça Estadual. Não há justiça que preserve mais os direitos humanos que a Justiça dos Estados. E por essa razão que temos buscado diálogo com o executivo e o legislativo estadual pois sem que eles tomem consciência dessa realidade dificilmente o Judiciário, sozinho, ou suas associações, terão êxito nas iniciativas.

Estadão: O país vive uma crise moral sem precedentes. Como barrar a corrupção?

Juiz Jayme Martins de Oliveira Neto: Corrupção é questão de formação moral, de um lado, e de efetividade das leis e da Justiça, por outro. Portanto, o combate à corrupção começa em casa, na educação que se dá aos filhos, na valorização do respeito ao outro, na cultura da fraternidade, da solidariedade. Passa pela escola, na forma como os professores tratam seus alunos e continua, dia a dia, nas relações humanas que se formam no trabalho, nos clubes, nos grupos etc. E, se tudo isso não funcionar, deve existir uma boa legislação que valorize o ser humano em todas as suas dimensões e que seja aplicada com efetividade, de maneira que a pessoa saiba, em violando o direito do outro segundo a lei local, que haverá repreensão do sistema judiciário.

Sem esses ingredientes não se barra a corrupção. Se falhar a educação no lar, na escola e na vida, não pode falhar a pedagogia da Justiça Estatal. O que se vê, no Brasil de hoje e em muitos lugares, é a mais absoluta falta de efetividade do sistema Judicial, pelo excesso de leis, de recursos, que favorece o advogado mais bem preparado e não o sistema de Justiça. Por isso, quando um juiz tem a oportunidade de mostrar efetividade e encontra ressonância nas instâncias superiores torna-se um mito, quase um herói.
Estadão: Faltam leis mais duras para os fraudadores do Tesouro? Qual a saída?

Juiz Jayme Martins de Oliveira Neto: Precisamos de boas leis e de sanções efetivas. Fundamental priorizar os julgamentos dos crimes contra a administração pública, das ações de improbidade administrativa e de todas as que visem apurar desvio de recursos públicos. Enquanto os fraudadores do tesouro souberem que as ações não terminam, enquanto puderem utilizar de estratégias para ganhar tempo, cavar prescrição, enfim, pouca coisa mudará. Nós poderíamos, no Judiciário, de plano, priorizar esses julgamentos tanto na primeira quanto na segunda instância, criar câmaras especiais, de maneira a punir rápida e efetivamente o fraudador, e livrar o inocente, também rapidamente, quando o for o caso.
Estadão: Em sua opinião como cidadão, o presidente da Câmara dos Deputados deve renunciar?

Juiz Jayme Martins de Oliveira Neto: Muito difícil opinar sem conhecer os fatos, os processos, as provas. A renúncia é um ato de vontade interna, pessoal. Para nós, o relevante é que as instituições funcionem, que os procedimentos de apuração sejam realizados, que o direito de ampla defesa e contradit

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ório seja respeitado e que a decisão administrativa ou judicial seja baseada no que for apurado nesses autos. Em assim ocorrendo, o Brasil superará a crise e as Instituições sairão fortalecidas.

O juiz Jayme Martins de Oliveira Neto, reeleito presidente da Associação Paulista de Magistrados, neste sábado, 21,, pela chapa única ‘Apamagis Forte’, afirma que a ‘corrupção é questão de formação moral, de um lado, e de efetividade das leis e da Justiça, por outro’. Para ele, ‘o combate à corrupção começa em casa, na educação que se dá aos filhos, na valorização do respeito ao outro, na cultura da fraternidade, da solidariedade…’.

Jayme Martins de Oliveira Neto avalia que a solução para a enxurrada de 100 milhões de ações que travam os tribunais está ‘na tomada de consciência daqueles que detêm o poder estatal’. “Todos sabem que o sistema recursal vigente no país é absurdo, feito para as demandas não terminarem. Os grandes litigantes são conhecidos e o Estado é um deles e nada se faz em relação a isso”, atesta o magistrado.
O presidente reeleito da maior e mais importante entidade de classe estadual dos juízes considera que ‘os Juizados Especiais precisam retomar seu protagonismo e sua destinação histórica, pois foram atropelados pela estrutura burocrática’.

Indagado se, como cidadão, considera que o deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ) deve renunciar à presidência da Câmara, o magistrado disse que ‘a renúncia é um ato de vontade interna, pessoal’.

Jayme de Oliveira, reeleito presidente da Apamagis
Estadão: O Brasil conta 100 milhões de processos nos tribunais. Que solução o sr vê para esse quadro?

Juiz Jayme Martins de Oliveira Neto: A partir de 1988, com a abertura democrática e a nova Constituição, surgiu uma consciência popular de defesa dos direitos e o Judiciário foi descoberto pelo povo. Isso revela confiança na Justiça; mas o Judiciário não estava preparado para esse volume de processos e o que se percebe a cada ano é um aumento no estoque. Ocorre que 100 milhões de processo não podem ser vistos apenas como números, afinal são 100 milhões de conflitos, de desavenças, desajustes no meio social. E essas 100 milhões ou mais de pessoas esperam uma decisão justa, proferida por um juiz isento, preparado, dedicado e que lhe dê um mínimo de atenção.

A solução passa por uma tomada de consciência daqueles que detêm o poder estatal. Todos sabem que o sistema recursal vigente no país é absurdo, feito para as demandas não terminarem. Os grandes litigantes são conhecidos e o Estado é um deles e nada se faz em relação a isso. Os Juizados Especiais precisam retomar seu protagonismo e sua destinação histórica, pois foram atropelados pela estrutura burocrática. A mediação e a conciliação precisam assumir verdadeiro papel de destaque.

Estadão: O Estado é o grande litigante que trava os tribunais. Como contê-lo?

Juiz Jayme Martins de Oliveira Neto: O Estado se utiliza da burocracia judicial. A cada ano, milhões de processos são despejados no Judiciário pelo Executivo. E ninguém quer discutir isso em profundidade. Modelos mentais do século passado e que nos formaram nas universidades impedem soluções novas, criativas. O homem é conservador por natureza e tem medo de mudanças. Sem que prefeitos, governadores e presidentes enfrentem a questão nada mudará. A mediação e a conciliação precisam ser absorvidas sem medo também na seara do direito público. O Judiciário não pode ser mais o cobrador do Poder Executivo e a execução fiscal deve tramitar no próprio Executivo, ao menos até a penhora. O juiz somente deve ser chamado para resolver o conflito. E as decisões precisam de efetividade. Com esse número de recursos e com a cultura de que o Estado tem de recorrer sempre, o quadro não mudará.
Estadão: Qual sua meta principal pelos juízes?

Juiz Jayme Martins de Oliveira Neto: Trabalhar cada vez mais pelo aprimoramento do Poder Judiciário, nos limites de atuação de uma associação. Queremos um Judiciário mais forte e independente, que trabalhe com um volume de processos razoável. Nenhum juiz está feliz com o quadro atual, pois nossa destinação é servir ao povo, distribuir justiça nos limites da nossa consciência e formação. Queremos ouvir as partes, os advogados, queremos pacificar litigantes, julgar com rapidez. Mas como? Não há mágica. Os servidores estão esgotados, a estrutura é precária, a legislação muda sem maiores reflexões e há um limite humano para o trabalho. Então nosso papel é dialogar com os poderes constituídos e buscar soluções.

O Poder Judiciário dos Estados é o que tem a maior carga de processos e para isso basta olhar as estatísticas do CNJ. Para além do número de processos, os juízes realizam milhões de audiências anualmente e isso não é considerado ou contabilizado. Os governantes precisam respeitar o pacto federativo e valorizar os Tribunais de Justiça que não podem ser meros tribunais de passagem de autos.

Na Justiça dos Estados temos as competências que dizem mais de perto com a vida da população São as questões de família, os crimes contra a vida e o patrimônio, a delinquência juvenil, a defesa do consumidor, entre tantas outras que dizem diretamente com a vida das pessoas e por isso é preciso valorizar esse trabalho, essa Justiça Estadual. Não há justiça que preserve mais os direitos humanos que a Justiça dos Estados. E por essa razão que temos buscado diálogo com o executivo e o legislativo estadual pois sem que eles tomem consciência dessa realidade dificilmente o Judiciário, sozinho, ou suas associações, terão êxito nas iniciativas.

Estadão: O país vive uma crise moral sem precedentes. Como barrar a corrupção?

Juiz Jayme Martins de Oliveira Neto: Corrupção é questão de formação moral, de um lado, e de efetividade das leis e da Justiça, por outro. Portanto, o combate à corrupção começa em casa, na educação que se dá aos filhos, na valorização do respeito ao outro, na cultura da fraternidade, da solidariedade. Passa pela escola, na forma como os professores tratam seus alunos e continua, dia a dia, nas relações humanas que se formam no trabalho, nos clubes, nos grupos etc. E, se tudo isso não funcionar, deve existir uma boa legislação que valorize o ser humano em todas as suas dimensões e que seja aplicada com efetividade, de maneira que a pessoa saiba, em violando o direito do outro segundo a lei local, que haverá repreensão do sistema judiciário.

Sem esses ingredientes não se barra a corrupção. Se falhar a educação no lar, na escola e na vida, não pode falhar a pedagogia da Justiça Estatal. O que se vê, no Brasil de hoje e em muitos lugares, é a mais absoluta falta de efetividade do sistema Judicial, pelo excesso de leis, de recursos, que favorece o advogado mais bem preparado e não o sistema de Justiça. Por isso, quando um juiz tem a oportunidade de mostrar efetividade e encontra ressonância nas instâncias superiores torna-se um mito, quase um herói.
Estadão: Faltam leis mais duras para os fraudadores do Tesouro? Qual a saída?

Juiz Jayme Martins de Oliveira Neto: Precisamos de boas leis e de sanções efetivas. Fundamental priorizar os julgamentos dos crimes contra a administração pública, das ações de improbidade administrativa e de todas as que visem apurar desvio de recursos públicos. Enquanto os fraudadores do tesouro souberem que as ações não terminam, enquanto puderem utilizar de estratégias para ganhar tempo, cavar prescrição, enfim, pouca coisa mudará. Nós poderíamos, no Judiciário, de plano, priorizar esses julgamentos tanto na primeira quanto na segunda instância, criar câmaras especiais, de maneira a punir rápida e efetivamente o fraudador, e livrar o inocente, também rapidamente, quando o for o caso.
Estadão: Em sua opinião como cidadão, o presidente da Câmara dos Deputados deve renunciar?

Juiz Jayme Martins de Oliveira Neto: Muito difícil opinar sem conhecer os fatos, os processos, as provas. A renúncia é um ato de vontade interna, pessoal. Para nós, o relevante é que as instituições funcionem, que os procedimentos de apuração sejam realizados, que o direito de ampla defesa e contraditório seja respeitado e que a decisão administrativa ou judicial seja baseada no que for apurado nesses autos. Em assim ocorrendo, o Brasil superará a crise e as Instituições sairão fortalecidas.

Falando a Verdade: do rádio para o mundo digital

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Depois de alcançar sucesso com o público rondoniense através do rádio, agora o programa Falando a Verdade chega na rede mundial de computadores, a Internet.

Diariamente, ouvintes e leitores do mundo todo, já podem ter acesso não apenas ao programa mas a comentários exclusivos sobre os bastidores do programa.

Como diz o jornalista Eudes Lustosa: agora a Internet tem um novo olhar, uma nova visão sobre as notícias locais e mundiais, que é o jeito do Falando a Verdade.

Ao comentar o lançamento do programa na Internet, Eudes também fez questão de ressaltar que ao contrário de muitos sites de notícias que evitam a participação dos internautas, isso será diferente aqui: “A opinião do leitor é considerada por nós algo da maior importância e aqui também terá seu espaço garantido”. Todas as notícias terão campo específico para as opiniões e participação do público.

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