Como o recurso expressivo dos emojis está modificando nossa relação com a palavra escrita
Os emojis – aqueles ícones colocados entre os diálogos no mundo digital – podem prevenir mal-entendidos. Uma carinha envergonhada ou um simples coração muitas vezes suavizam a dureza de certas palavras. Mas afinal, o quanto esses elementos estão realmente ajudando a nossa comunicação?
Sérgio Paganim, professor e autor dos materiais didáticos de Língua Portuguesa do Anglo, comenta o uso desse recurso, suas vantagens, desvantagens e repercussões na língua escrita.“Não tem como dizer no mundo moderno que os emojis são prejudiciais ou desnecessários para a nossa comunicação cotidiana. É um choque na nossa língua, mas em culturas orientais, este tipo de recurso adicional à linguagem verbal é muito mais comum. Em suas escritas, cada ideograma condensa, acima de tudo, ideias”, afirma Paganim.
Na década de 70, o pesquisador iraniano Albert Mehrabian concluiu que, durante uma conversa, as palavras representam apenas 7% na comunicação, em comparação com os 38% atribuídos ao tom de voz, e com os 55% à linguagem corporal. Quando não há o contato face a face, os emojis podem ser uma alternativa simples e efetiva.
No nível da comunicação interpessoal online, os emojis estão perfeitamente a par das tendências do mundo moderno: garantem uma comunicação mais ágil e econômica, condensando ideias e intensificando sentidos.
A esse tipo de texto que mistura elementos escritos e visuais dá-se o nome de texto sincrético. “É da própria natureza da linguagem escrita, sobretudo no mundo moderno, aliar a linguagem verbal e a não-verbal. Isso pode ser observado tanto em propagandas, como em ícones de computadores e celulares ou, no caso da literatura, na poesia concreta”, diz Paganim.
Expressão e raciocínio
Apesar de interessante, este recurso, em análise mais rigorosa sob o prisma da redação, pode ser limitador. Em uma mensagem virtual que pretende ser irônica, uma carinha substitui a criação de um contexto e o uso de expressões que tragam este sentido. Mas e quando não há essa possibilidade?
“Alguém que passa muito tempo nas redes sociais e se habituou a escrever de maneira fragmentada, com muitos emojis, pode ter mais dificuldade na hora de explicar e redigir seu raciocínio por completo”, alerta o professor. “Na correção de redações, por exemplo, os corretores sempre chamam a atenção para quando os argumentos estão muito curtos e resumidos que não conseguem ser apreendidos pelo leitor.”
Prova de que são parte da língua, os emojis sofrem alterações com o tempo e dependem dos seus usuários. Assim como a palavra “trânsito” passou de um significado original de deslocamento e hoje também pode trazer um sentido contrário, de congestionamento, um emoji de mãos unidas pode significar tanto um cumprimentoquanto uma prece.
Afinal, os emojis nasceram da nossa língua e das nossas expressões. E quando não há a imagem, handolagem, pronta para expandir, reinterpretar e esclarecer.