Drama da Chapecoense: Diante da dor do outro, nossa consternação ao luto

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Parecia mais uma terça-feira comum, daquelas preenchidas pela rotina do dia e pela pressa em resolver a vida nos seus vários compromissos.

Mas os primeiros minutos da manhã do dia 29 de novembro já denunciavam a violência do imprevisível: A morte havia chegado para 71 pessoas a bordo do avião que levava o time Chapecoense para Medellín, na Colômbia. Não cabiam rotina ou pressa para lidar com o inacreditável e com nossa dificuldade em colocar o acontecimento em palavras. Era preciso parar.

E assim, o Brasil parou, boquiaberto, doído, emudecido. Quem eram aquelas pessoas para quem se precisou dizer um triste adeus sem ao menos tê-las conhecido? Que histórias viviam antes que a vida trouxesse nossa única certeza, a do fim? Pouco a pouco, fomos conhecendo um a um, atletas, técnico, jornalistas, pilotos. Nomes e rostos eram novidade para muitas pessoas, mas suas mortes foram sentidas com familiaridade.

Diego Godin,Carlos Baca

Em instantes, a cidade de Chapecó, em Santa Catarina, e o futebol brasileiro se tornaram remetentes e destinatários de inúmeras demonstrações de solidariedade. O drama vivido pelas vítimas encontrou identificação em milhões de pessoas, não necessariamente conectadas pelo mesmo universo esportivo.

CHAPECO, BRAZIL - NOVEMBER 29: A fan pays tribute to the players of Brazilian team Chapecoense Real who were killed in a plane accident in the Colombian mountains, at the club's Arena Conda stadium in Chapeco, in the southern Brazilian state of Santa Catarina, on November 29, 2016. Players of the Chapecoense were among 81 people on board the flight that crashed into mountains in northwestern Colombia, in which officials said just six people were thought to have survived, including three of the players. Chapecoense had risen from obscurity to make it to the Copa Sudamericana finals scheduled for Wednesday against Atletico Nacional of Colombia. (Photo by Heuler Andrey/Getty Images)

Televisionadas, narradas, tweetadas ou compartilhadas, as informações sobre a tragédia circularam rapidamente e alimentaram a comoção, ao mesmo tempo em que expuseram a lástima dos familiares e amigos. A infelicidade vivida por eles foi acompanhada em tempo real, até mesmo explorada.

Mas a angústia, dor, desespero, revolta, ódio, tristeza, medo, culpa e ideias onipotentes de salvação – identificadas entre as pessoas próximas às vítimas – precisam mesmo é de acolhimento e sensibilidade. Diante da dor do outro, a empatia é fundamental para lidar com o sofrimento alheio e evitar que seja transformado em espetáculo.

A certeza da morte não alivia a angústia profunda causada por ela, o só o luto permite que essa perda seja “digerida” e abra caminho para outras realizações na vida que fica – afinal, para alguns, ela precisa continuar. Mas espremido entre a urgência da “superação das dificuldades” e a rejeição da tristeza por nossa cultura, este processo, que já é bastante difícil, acaba ficando em segundo, ou último plano. Mais do que comoção, a tragédia da Chapecoense precisa de espaço para o luto das pessoas afetadas.

A punição para os responsáveis, caso haja culpados, ajuda a elaborar a perda. “A impunidade pode manter a ferida aberta”, explica a psicanalista Luciana Saddi.

“Elaboramos as perdas de forma singular e intransferível. Alguns passam a vida a negar o ocorrido. Outros enfrentam a dor, se deixam abater e ultrapassam o inferno: Sentimentos muito difíceis de administrar. Quem está de luto está sensível e os sentimentos podem se transformar a qualquer minuto. Ódio, dor, cansaço, culpa, tristeza, descontrole, frieza e ambivalência de afetos são frequentes.”

Segundo Saddi, quem tiver condição de suportar viver estes sentimentos intensamente, sem reprimi-los, por mais estranhos que sejam, tem mais chance de amenizar essa situação.

“O luto é um momento de loucura, loucura sana. Quem não suportá-la tem mais chance de adoecer.”

Brazil's Chapecoense players pose for pictures during their 2016 Copa Sudamericana semifinal second leg football match against Argentina's San Lorenzo held at Arena Conda stadium, in Chapeco, Brazil, on November 23, 2016. / AFP / NELSON ALMEIDA (Photo credit should read NELSON ALMEIDA/AFP/Getty Images)

Não é só o Brasil, o mundo inteiro está de luto por todos vocês! #FORÇACHAPE

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