Entre as menções ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) feitas na delação premiada do senador Delcídio do Amaral (ex-PT), homologada nesta quarta-feira (15) pelo STF, está a confirmação de uma conta secreta que a família do mineiro manteve no principado de Liechtenstein, o mais fechado de todos os paraísos fiscais do mundo. A revista Época teve acesso a documentos apreendidos pela Polícia Federal em 2007 que comprovam que a conta foi aberta no LGT Bank pelo doleiro Norbert Muller.
De acordo com a publicação, divulgada nesta quarta-feira (16), a fundação criada por Inês Maria Neves Faria, mãe de Aécio, para administrar o dinheiro da conta secreta criada em 2001, foi chamada de “Bogart & Taylor”.
Na delação, Delcídio diz que fora informado “pelo ex-deputado federal José Janene, morto em 2010, que Aécio era beneficiário de uma fundação sediada em um paraíso fiscal, da qual ele seria dono ou controlador de fato; que essa fundação seria sediada em Liechtenstein”. Delcídio diz que não sabe dizer ao certo, mas que “parece que a fundação estaria em nome da mãe ou do próprio Aécio Neves; que essa operação teria sido estruturada por um doleiro do Rio de Janeiro”.
Delcídio disse, ainda, não saber se há relação entre essa fundação e as acusações que fez ao tucano — entre elas, de ser beneficiário de propinas em Furnas e de ter agido para interferir nas investigações da CPI dos Correios, da qual o petista foi presidente, em 2006. Janene era um dos líderes do esquema em Furnas, segundo as investigações.
Segundo os documentos apreendidos pela PF, a conta em Liechtenstein poderia ser movimentada por Inês Maria e por Andréa Neves, irmã de Aécio. Segundo os papéis, o senador não estava autorizado a movimentar a conta da fundação no banco LGT. Era, no entanto, seu beneficiário, de acordo com um documento apreendido pela PF e conhecido como “By Law”.
De acordo com a revista, foi a primeira vez que uma testemunha da Lava Jato citou em público o que os investigadores da Procuradoria-Geral da República investigam sigilosa e discretamente.
A investigação da PF confirmou que nem Inês Maria, nem Andréa, irmã do senador, nem Aécio declararam a existência da conta e da fundação “Bogart & Taylor” à Receita Federal ou ao Banco Central, como determina a lei. Em tese, cometeram os crimes de evasão de divisas, ocultação de patrimônio e sonegação fiscal.