Vencer algum dos concursos organizados pelo Google não é uma tarefa fácil. É preciso estudar e trabalhar muito em seu projeto. Imagine conseguir esse feito mesmo morando na África, estudando sozinho e, depois de ser condecorado com a premiação, ver que seu acesso à internet foi cortado? O que parece uma história quase fictícia, um jovem mostrou que ela é bem real.
Aos 17 anos e natural de Camarões, Nji Collins Gbah tem uma história impressionante para contar. Ao ficar sabendo da competição Google Code-in, ele decidiu testar seus conhecimentos em programação – adquiridos por conta própria durante dois anos de estudos em casa – contra cerca de outros 1.300 jovens entre 13 e 17 anos de 62 países diferentes.
O concurso pedia que os participantes completassem trabalhos específicos de programação. Quando as inscrições foram finalmente encerradas, Nji já havia terminado 20 tarefas propostas pelo Google em cinco categorias diferentes. Somente um desses trabalhos levou cerca de uma semana para ficar pronto.
Sem internet
Até aqui, o garoto trabalhava e estudava com a ajuda da conexão à internet que possuía em sua casa. No entanto, um dia após ter entregado as tarefas, a conexão de Bamenba, a cidade onde mora, foi cortada pelo próprio governo por conta de conflitos das autoridades com ativistas que pedem maior reconhecimento para a região.
Para entender melhor, o município fica ao noroeste de Camarões, região em que a população usa o inglês como língua oficial – algo que não agrada o governo local. Depois da colonização no século 19 pela Alemanha, o país acabou sendo dividido entre França e Grã-Bretanha que criaram “dois Camarões” e depois fundiram-se para dar nascimento à República Federal dos Camarões.
Sem conexão e com a escola fechada por conta dos protestos nas ruas, o jovem recebeu a notícia de que fora um dos 34 vencedores do prêmio do Google. Como premiação, cada jovem passará quatro dias na sede da empresa, no Vale do Silício, nos Estados Unidos.
Antes disso, porém, Nji decidiu mudar-se de cidade para continuar com seus estudos. “Eu queria ter uma conexão para poder continuar estudando e fazer contato com o Google”, conta. Ele espera terminar os estudos em Bamenda e depois cursar Ciência da Computação em alguma universidade.
Futuro no Google
A viagem para o Google já está marcada para acontecer em junho deste ano. No que depender de Nji, no entanto, essa não será a única vez que pisará dentro dos escritórios da gigante de buscas. “Se tudo der certo, quero um dia trabalhar lá”, afirma.
Para fazer isso, ele usará da mesma estratégia que vem dando certo até agora: estudar. Seu foco é aprender mais sobre deep learning para desenvolver um modelo próprio de compressão de dados utilizando aprendizagem profunda e aprendizado de máquina.
Esquecido pelo governo
Primeiro vencedor deste concurso em todo o continente africano, o rapaz que completará 18 anos em breve recebeu muitas ligações de amigos e parentes parabenizando-o pelo feito. O governo de seu país, por sua vez, não entrou em contato com o garoto e nem emitiu qualquer nota sobre o assunto.
A cidade de Bamenda, terra natal de Nji, pode até comemorar o feito de seu promissor estudante de programação. Mas não pode postar fotos da comemoração no Facebook ou em qualquer outra rede social, já que a região continua sem acesso à internet até hoje.
Fonte: Via BBC