Ministro da Transparência pede demissão após criticar Lava Jato em conversa gravada
O ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, pediu demissão nesta segunda-feira (30) após ter sido alvo de gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da Presidência da República.
Em sua carta de demissão, Silveira classificou as acusações contra ele como “insólitas”. “Não há em minhas palavras nenhuma oposição aos trabalhos do Ministério Público ou do Judiciário, instituições pelas quais tenho grande respeito”, afirmou.
Leia a carta:
Recebi do Presidente Michel Temer o honroso convite para chefiar o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle.
Nesse período, estive imbuído dos melhores propósitos e motivado a realizar um bom trabalho à frente da pasta.
Pela minha trajetória de integridade no serviço público, não imaginava ser alvo de especulações tão insólitas.
Não há em minhas palavras nenhuma oposição aos trabalhos do Ministério Público ou do Judiciário, instituições pelas quais tenho grande respeito.
Foram comentários genéricos e simples opinião, decerto amplificados pelo clima de exasperação política que todos testemunhamos. Não sabia da presença de Sérgio Machado. Não fui chamado para uma reunião. O contexto era de informalidade baseado nas declarações de quem se dizia a todo instante inocente.
Reitero que jamais intercedi junto a órgãos públicos em favor de terceiros. Observo ser um despropósito sugerir que o Ministério Público possa sofrer algum tipo de influência externa, tantas foram as demonstrações de independência no cumprimento de seus deveres ao longo de todos esses anos.
A situação em que me vi involuntariamente envolvido – pois nada sei da vida de Sérgio Machado, nem com ele tenho ou tive qualquer relação – poderia trazer reflexos para o cargo que passei a exercer, de perfil notadamente técnico.
Não obstante o fato de que nada atinja a minha conduta, avalio que a melhor decisão é deixar o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle.
Externo ao Senhor Presidente da República o meu profundo agradecimento pela confiança reiterada.
Brasília, 30 de maio de 2016.
Fabiano Silveira
O ministro, deveria lutar pela transparência do governo e pelo prosseguimento da Lava Jato, foi gravado na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB, criticando a própria operação, que investiga crimes de corrupção na Petrobras.
Na época, Fabiano era ainda conselheiro do Conselho Nacional de Justiça e foi indicado ao cargo pelo próprio Renan Calheiros. Nos áudios divulgados pelo Fantástico, o atual ministro faz críticas à condução da Lava Jato pela Procuradoria e também dá conselhos e consultorias aos investigados na operação.
Silveira é o segundo ministro do governo Temer a cair em pouco mais de duas semanas. No último dia 23, Romero Jucá se afastou do cargo de ministro do Planejamento após gravações em que ele fala sobre um “pacto” para frear a operação que investiga crimes de corrupção na Petrobras terem sido divulgadas pelo jornal Folha de S.Paulo.
Servidores barraram entrada de ministro da Transparência e exigiram sua demissão
O ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, começou a segunda-feira com o pé esquerdo. Um grupo de servidores da Controladoria-Geral da União (CGU) impediu a entrada do ministro no seu gabinete.
O carro foi cercado por manifestantes assim que chegou à sede da CGU. O ministro não conseguiu estacionar o carro e deixou o local.
Logo em seguida, os servidores lavaram a fachada do prédio da Controladoria. Durante toda a manhã, os servidores promoveram uma limpeza nos andares. Gritando “Fora, Fabiano”, o grupo entrou no nono andar do prédio – onde fica a sala do ministro – e jogou água com sabão pelos corredores.
Representantes da CGU em 22 estados brasileiros anunciaram que deixariam seus cargos caso o ministro não fosse desonerado do cargo. Em nota, o Sindicato Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle (Unacon) exigiu a saída de Fabiano Silveira.
Além de cobrar a exoneração imediata de Fabiano Silveira, o sindicato cobrava a revogação da medida provisória assinada pelo presidente interino Michel Temer que criou o Ministério da Transparência, alterando a estrutura da CGU.
O diálogo entre Fabiano Silveira e Renan Calheiros foi gravado na residência oficial do Senado em 24 de fevereiro, quando Fabiano era membro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – indicado pelo senador peemedebista. O ministro também fez recomendações a Machado sobre como ele deveria se comportar diante de uma medida cautelar.
Fonte: HuffPost Brasil