Aos gritos de ‘Fora, PT’, PMDB deixa governo em reunião de três minutos

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“A partir de hoje, nessa reunião histórica, o PMDB se retira da base do governo da presidente Dilma Rousseff. E ninguém no país está autorizado a exercer qualquer cargo federal em nome do partido.” Foi com esse discurso que a maior sigla do Congresso selou, em uma cerimônia de pouco mais de três minutos, o fim de uma aliança de 13 anos com o PT.

O ato foi encerrado aos gritos de “Fora PT” e “Brasil para frente, Temer Presidente”.

Exaltado pelos correligionários, o vice-presidente Michel Temer (PMDB), principal beneficiário de um impeachment da petista, assistiu ao ato pela TV, na base aérea de Brasília.

Ao final, recebeu a ligação de um aliado: “Foi tudo bem, como previsto”. Minutos depois, Temer embarcou para São Paulo, onde deve permanecer até a próxima semana.

A reunião que selou o desembarque foi presidida pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), vice-presidente da legenda, aliado de Temer e um dos apoiadores do impeachment no partido. Seguindo o script definido para o evento, o rompimento foi aprovado por aclamação.

A determinação de que os peemedebistas deixem cerca de 600 cargos na administração foi seguida pela promessa de que aqueles que descumprirem serão punidos.

Com isso, três dos seis ministros que o PMDB ainda tem na Esplanada disseram a assessores que pretendem deixar seus cargos: Mauro Lopes (Aviação Civil), Helder Barbalho (Portos) e Eduardo Braga (Minas e Energia).

No polo oposto estão Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), que trabalham para ficar na Esplanada. Além deles, a ministra Katia Abreu (Agricultura), amiga de Dilma, estuda até deixar o PMDB para poder continuar na base de apoio da petista.

Alguns dos principais nomes do partido no Congresso passaram a alardear que estavam determinando que seus aliados entregassem os cargos. Foi o caso do líder do PMDB do Senado, Eunício Oliveira (CE). Ele havia indicado o presidente do Banco do Nordeste, mas determinou que o afilhado colocasse o posto à disposição.

PLANALTO PRESSIONADO

A saída do PMDB da base aliada de Dilma ampliou a pressão sobre o Palácio do Planalto e os aliados que tentam conter o avanço do processo de impeachment. Dentro do partido, a expectativa é que o movimento atraia mais parlamentares para a ala do Congresso que é a favor do afastamento de Dilma.

“Agora é água morro abaixo”, comentou o senador Valdir Raupp (PMDB-RO). O próprio governo teme que haja um “efeito manada” e começou a trabalhar para conter defecções oficiais em partidos como o PP, PR e PSD, oferecendo a essas siglas mais cargos do que elas já têm para que permaneçam na base.

Aliado de Temer, o ex-ministro Moreira Franco (PMDB-RJ) recorreu a um jargão jornalístico para desmerecer a estratégia. “O governo insiste em dizer em ‘on’ [abertamente] coisas que não deveria fazer nem em ‘off’ [em sigilo]. Não há nada que a sociedade deteste mais do que o mercado de cargos. O governo faz e depois se surpreende com a reação da opinião pública.”

UM MINUTO

A cúpula do PMDB tentou dar um ar solene à reunião que definiu o desembarque,solicitando que ex-presidentes e quadros históricos da sigla compusessem a mesa que presidiu o ato.

Assim, o ato contou com nomes como Ibsen Pinheiro, peemedebista que era presidente da Câmara dos Deputados quando o Congresso derrubou o ex-presidente Fernando Collor, em 1992.

O presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também teve lugar de destaque. Ele foi à cerimônia sorrindo e abraçando correligionários. Disse que, se dependesse dele, o ato teria sido ainda mais curto. “Eu teria feito em um minuto.” O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que não compareceu ao evento, disse esperar que o processo de impeachment não chegue à Casa.

Os ministros peemedebistas não compareceram à reunião. Nomes como José Sarney, Eduardo Paes e Sergio Cabral também não compareceram. No entanto, enviaram aliados para o encontro, como a ex-governadora Roseana Sarney e os secretários do Rio de Janeiro Pedro Paulo e Marco Antonio Cabral.

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