Nova técnica sistematizada pela Embrapa Rondônia, chamada poda de formação, pode fazer com que os cafeeiros da espécie canéfora (Conilon e Robusta) apresentem aumento de até 30% de produtividade na primeira safra. A prática ainda permite a padronização das podas de produção, já que as hastes formadas apresentarão a mesma idade. A poda dos cafeeiros é praticada por alguns cafeicultores, porém sem critérios e de forma empírica. A sistematização traz embasamento técnico e comprovação de resultados.
Além disso, se os cafeeiros forem plantados no mês de janeiro e a poda realizada em março, a técnica pode evitar que as plantas cresçam o suficiente para florescerem em julho, ou agosto, evitando a colheita do primeiro ano, conhecida como catação, que é muitas vezes inviável para o agricultor, devido ao alto custo e baixo rendimento.
O pesquisador Marcelo Curitiba, que sistematizou a poda de formação, afirma que o aumento da produtividade na primeira safra e as demais vantagens compensam o investimento de tempo que o produtor faz. Ele exemplifica que para realização da poda são gastos, aproximadamente, dez segundos por planta. Assim, em um dia de serviço (equivalente a oito horas), é possível realizar a poda em aproximadamente 2.900 plantas, o que corresponde a um hectare plantado em espaçamento de três metros entre linhas por 1,15 m entre plantas.
O cientista comenta que a operação de seleção de brotos e a desbrota são um pouco mais trabalhosas, devido, especialmente ao processo de seleção. Assim, considerada a necessidade de 60 segundos por planta, em um dia de serviço é possível realizar a poda em aproximadamente 500 plantas, ou seja, aproximadamente seis dias para fazer a poda em um hectare. “Em resumo, são necessários aproximadamente sete dias de serviço para o retorno de até 30% da produção de frutos, um retorno que vale a pena”, conclui Curitiba.
O produtor de café do Município de Alta Floresta D’Oeste (RO), Ademar Schmidt, conheceu a técnica a aprovou. “Eu não deixo de fazer a poda de formação nas minhas áreas recém-plantadas. É fácil de fazer e traz vários benefícios para a lavoura”, diz. Ele aprendeu a técnica com a filha Raquel, engenheira-agrônoma que, em suas atividades de pesquisa, aplicou o conhecimento nas lavouras do pai. “Começamos a usar a poda nas lavouras para o meu experimento do trabalho de conclusão do curso. Vimos os resultados e gostamos. Depois disso, em todas as lavouras utilizamos a poda de formação. Os principais benefícios que destacamos é a facilidade de aplicação da técnica e a padronização da lavoura para a poda programada depois da terceira colheita”, comenta, frisando que aumenta a produtividade já na primeira safra em torno de 30%.
Outros cafeicultores de Rondônia já tiveram acesso à nova técnica e puderam ver o passo a passo para realizar a poda de formação em suas lavouras. “Esse treinamento foi importante porque percebi as vantagens que essa prática pode ter”, destacou a produtora familiar Marlene Alves, durante treinamento realizado em maio deste ano, em Porto Velho. Ela acrescentou que irá aplicar a técnica e passar adiante o conhecimento adquirido.
A técnica
Para que se possa compreender a importância desta poda, os cafeeiros Conilon e Robusta são arbustos multi-hastes (multicaules) que necessitam ser manejados de maneira a manter um número adequado de hastes por planta e por área, para que possam atingir o máximo potencial produtivo. O número de hastes de sustentação está diretamente relacionado à produtividade das plantas de café. Diferentemente dos cafeeiros da espécie arábica, que são conduzidos no sistema mono-haste.
Apesar de o cafeeiro ser capaz de emitir brotações que se tornarão hastes, isso pode demorar a acontecer em cafezais recém-plantados no campo. Este atraso na emissão de brotos reflete em atraso na formação da copa multi-haste e, consequentemente, em menor produtividade na primeira safra da lavoura. Esse atraso pode durar até um ano ou mais e, com isso, além da reduzida capacidade produtiva, os brotos formados tardiamente crescem em condições de baixa luminosidade e comprometem a capacidade de sustentação da produção dos ramos com frutos. “Para aumentar a capacidade produtiva na primeira safra, evitar a formação de hastes finas e alongadas e padronizar o estádio de desenvolvimento das hastes produtivas, recomenda-se a técnica de poda de formação dos cafeeiros canéfora”, reforça Curitiba.
Segundo o pesquisador, há relatos de agricultores que fazem uma poda similar a esta, de maneira empírica, mas ela ainda não havia sido sistematizada, com o passo a passo e o detalhamento das vantagens e benefícios causados. “É uma nova tecnologia, não havia sistematização para a poda de formação”, destaca. Com a sistematização, os produtores podem seguir as orientações da Embrapa e obter os resultados na lavoura.
O passo a passo
A poda de formação é uma técnica indicada para a formação precoce da copa dos cafeeiros Conilon e Robusta e seu objetivo é contribuir com a alta produtividade na primeira safra. Ela é realizada de forma manual, utilizando-se como ferramenta uma tesoura de poda, e consiste de duas etapas: a poda do ponteiro e limpeza do caule das plantas; a seleção de brotos e a limpeza do caule das plantas.
O primeiro passo é a eliminação de todos os ramos de produção, folhas baixeiras e gema apical (olho do cafeeiro). Cerca de 45 a 90 dias após a poda apical, deve ser realizada a desbrota, eliminando-se o excesso de brotos conforme a expectativa do número de hastes que se pretende manter por planta. Dessa forma, mantém-se de três a quatro brotos por planta, dando preferência para os brotos inseridos na parte mais baixa do caule. No momento da desbrota, devem ser eliminados os ramos de produção do baixeiro que tenham surgido após a poda.
Fonte: Embrapa Rondônia / Renata Silva