Rondônia: um mundo de mistérios

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    Mistérios envoltos do Mundo Amazônico não são novidades, não são recentes as notícias de expedições à região que fracassaram por motivos que até hoje são questionáveis. Razões que transitam entre o real e o imaginário, basta nos remeter à viagem comandada por Francisco Orellana, que partira de Quito, no Equador descendo o rio Amazonas. Fazia parte desta expedição frei Gaspar de Carvajal, relator oficial da viagem.

O ponto máximo dos relatos de Carvajal faz referência aos conflitos com uma tribo indígena formada exclusivamente por mulheres. Elas eram ferozes, fortemente armadas e atacaram os homens de Francisco Orellana no dia 24 de junho de 1542. Eram doze, e oito foram mortas. Na descrição de frei Gaspar de Carvajal, “eram brancas e altas, tinham longos cabelos trançados e enrolados na cabeça, eram muito robustas e estavam nuas, com as partes íntimas cobertas, lutando tanto quanto dez índios homens”, consta ainda que elas mutilavam os seios para facilitar o manuseio de armas.

As amazonas, como foram batizadas pelos integrantes da expedição, emprestaram seu nome da mitologia grega para a maior floresta tropical do mundo. Mas nunca mais, nos quase 500 anos seguintes, foram vistas por qualquer outra pessoa, passando a fazer parte do imaginário que permeia a Hileia Amazônica.

Descobertas arqueológicas recentes em Rondônia têm suscitado debates, controvérsias e posicionamentos que permeiam o mundo das ideias. Sabemos que Rondônia é um dos estados da Amazônia com maior índice de sítios arqueológicos registrados.Ao longo das décadas de 80 e 90 foram descobertas e estudados várias locais de ocupação humana na região que antecedem a presença europeia, especialmente a partir dos grandes empreendimentos governamentais como abertura de estradas e construção de hidrelétricas.

A descoberta que mais tem intrigado especialistas são os geoglifos encontrados na região do município de São Francisco do Guaporé, estes achados ocorreram durante o processo de pavimentação da BR – 429, que liga Presidente Médici à Costa Marques, são estruturas que até então só haviamsido encontradas no estado do Acre e em países andinos.

Os geoglifos são vestígios arqueológicos representados por desenhos geométricos (linhas, quadrados, círculos, desenhos, etc.) de grandes proporções, que podem ser melhor observados do alto. São famosos os geoglifos de Nazca, ao sul do Peru, descobertos por acaso na década de 30 e que até hoje suscitam teorias e polêmicas.

No caso de Rondônia, os geoglifos foram descobertosdurante os trabalhos de levantamento e resgate arqueológico associado ao licenciamento da Rodovia BR 429, foi identificado um complexo de geoglifos, composto por duas estruturas circulares com cerca de 280 metros cada uma, denominado Complexo Tarilândia.

O Complexo foi registrado e os trabalhos de resgate iniciados em agosto de 2010, através de uma empresa de consultoria arqueológica particular, com parceria da Universidade Federal de Rondônia, fizeram parte da equipe cerca de quinze pessoas, entre técnicos e especialistas de vários estados do Brasil, na equipe de Rondônia faziam parte eu, os professores Lourismar Barroso, Dante Fonseca, e o geólogo Sergio Carvajal.

Foram encontrados inúmeros vestígios antropológicos, entre eles uma grande quantidade de cerâmica, algumas bem elaboradas com detalhes coloridos que retratam a natureza da região, como cabeças de araras e quelônios. Outros objetos líticos (de pedra) também demonstram grande habilidade de seus fabricantes, como machadinhas cortantes,bacias e pilões para o preparo de alimentos.

Sobre a estrutura desses locais é possível obter dados conclusivos, agora, no que tange à sua funcionalidade existem mais dúvidas do que certezas. As arguições são muitas em relação à construção dessas figuras: Com que propósito teria sidos construídos esses geoglifos, e como foi possível a perfeição de suas formas geométricas? Teriam sido esses locais ambientes de moradia, culto, proteção, defesa?  Quanto tempo se levou para a sua construção e por quanto tempo foram ocupados? Como era a floresta no período de sua construção?

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Equipe de arqueólogos realizando escavações no leito do geoglifo. Foto: arquivo pessoal.

Talvez jamais chegaremos a conclusões precisas, porém sejam quais tenham sido sua utilidade, cabe a nós buscar conhecer e preservar os vestígios de nossos antepassados assim, contribuirmos para a formação de cidadãos que primem pela ética humanista e não apenas materialista.

É evidente que não podemos ser contra o progresso, ou esperar que tudo continue para sempre como está, pois o mesmo não pode ser parado, o mundo atual apresenta um ritmo frenético e constante. É claro que nosso Estado deve buscar melhorias para seus habitantes, que novas construções devem surgir e a paisagem mudar, mas o que não deve nunca ser deixado de lado é a preservação do patrimônio humano, pois ele representa a materialização da nossa história e da identidade cultural coletiva.

A perda do patrimônio representa a perda da história e da identidade, o que pode ser preocupante, pois a história do nosso Estado e do local onde moramos é única e insubstituível, e a destruição das suas representações materiais representa o esquecimento de parte da nossa identidade cultural, e esquecer nossa cultura e origens é esquecer quem somos.

Infelizmente o que já foi destruído está perdido para sempre, restando apenas o eventual registro iconográfico e documental. O que nos resta fazer é reconhecer a importância do patrimônio remanescente, conscientizar a população de sua importância coletiva, mudando a concepção antiga de que coisa velha não tem importância e cobrar das autoridades responsáveis a correta preservação de tudo aquilo que tiver relevância para a história coletiva e da região.

 

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