Ele é um dos personagens mais populares deste Carnaval. Máscaras à semelhança de seu rosto são vendidas pelo país, e suas ações no cumprimento de mandados de prisão de políticos e executivos se tornaram tema de uma das marchinhas mais cantadas neste ano.
Há quem considere tudo isso simples piada de ocasião sobre a atuação de Newton Ishii, o “Japonês da Federal”, na Operação Lava Jato. Para o historiador americano e brasilianista Jeffrey Lesser, no entanto, o que está em jogo é bem mais antigo: a representação estereotipada de nipo-brasileiros.
Para Lesser, o que acontece com Newton Ishii é parte de uma longa história no país, “de chamar a atenção para qualidades imaginadas de certos brasileiros”. A linguagem é similar ao que ocorria nos anos 1960, em que o japonês era “‘garantido’, trabalhador e mesmo violento no contexto da ditadura”.
Além disso, continua, “ninguém sabe se Newton Ishii de fato é ‘garantido’ ou não”. A realidade dá margem ao ceticismo: em 2003, Newton Ishii foi acusado de facilitação de contrabando e chegou a ser preso em uma operação. Respondeu a processo disciplinar, depois arquivado, e na esfera penal foi condenado a pagar cestas básicas.
Após tal episódio, aposentou-se. Onze anos depois, retornou à Polícia Federal para um período a mais de serviço após determinação do Tribunal de Contas da União que fez com que vários policiais voltassem a trabalhar. Agora, está entre os investigados pelo vazamento da minuta da delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
Fonte: Folha de São Paulo