O lamento familiar foi a tônica da abertura solene do Seminário de Enfrentamento ao Uso Indevido de Álcool e Outras Drogas, do governo de Rondônia, na noite de terça-feira (28), no Teatro Estadual Palácio das Artes, em Porto Velho. O vice-governador Daniel Pereira lembrou o sofrimento do pai com excesso de bebida alcoólica em Luiziana (PR), e a superintendente estadual de políticas sobre drogas, Isis Queiroz, contou o drama do irmão que morreu em consequência da dependência química, em Ariquemes.
Cerca de 400 alunos de diversas escolas ouviram o desabafo de ambos e também o comprometimento do governo em ofertar recursos diretamente às famílias, na busca de soluções para graves problemas físicos e psicológicos decorrentes dessas doenças.
Mea culpa em relação à própria classe política e o preconceito com pessoas em situação de risco fizeram o breve discurso do deputado Alex Redano (PRB). Ele defendeu maior empenho para investimentos no trabalho de igrejas e comunidades terapêuticas, “a melhor mão de obra que resgata pessoas desse submundo.O Estado Brasileiro vive às voltas com a hipocrisia porque, ao mesmo tempo em que faz política preventiva, permite a venda e o consumo desenfreado de bebidas”, ele disse.
“Minha família foi despedaçada. Meu irmão consumiu muito e a rua inteira onde a gente morava foi levada pelas drogas em Ariquemes”, relatou Isis.
Mostrando projeções na tela, uma delas lembrando os 1.440 quilômetros de fronteira brasileira com a Bolívia em Rondônia, a superintendente conclamou a população, acadêmicos e profissionais a “se darem as mãos, abrindo o coração para o debate”.
Para Isis, no sofrimento muito se aprende. Segundo dados da Sepoad, Rondônia tem atualmente 679 mil usuários de drogas [37,99%] do total brasileiro.”Rondônia é o 7º estado brasileiro em consumo de bebidas alcoólicas (25,9%)”, ela frisou.
Baseado em dados do IBGE, o médico psiquiatra Jairo Bouer, ex-consultor do governo paulista no Projeto Prevenção, lembrou que estudantes com menos de 15 anos já bebem e usam drogas no Brasil. “Eles conhecem a bebida muito antes de entender o impacto que ela terá em suas vidas”, alertou.
Segundo o médico, a Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas e a Universidade Federal de São Paulo constataram, em 2012, que 54% dos adultos pesquisados bebem pelo menos uma vez por semana. Na região Norte brasileira houve aumento de 33% em 2006 para 36% naquele ano. “Atualmente, há 11,7 milhões de abusadores e dependentes de álcool no País, e a dependência atinge 6,8% da população (10,5% homens e 3,6% mulheres)”, disse.
MOBILIZAÇÃO ESCOLAR
A mobilização escolar em Porto Velho começará nesta quinta-feira (29), com atividades específicas para escolas da rede estadual, promovida pela Sepoad e Seduc, informou o secretário-adjunto de educação, Márcio Félix.
À noite, o Projeto Acolher voltará ao canteiro em frente à rodoviária, na Avenida Jorge Teixeira, oferecendo alimentação, testes rápidos de doenças transmissíveis e roupas para moradores de rua. Equipe do Centro de Referência de Prevenção e Atenção à Dependência Química segue atuando no Residencial Orgulho do Madeira, com atividades que envolvem cerca de seis mil famílias.
OUTROS NÚMEROS
► Segundo levantamento do IBGE (2015), 55% dos alunos do 9º ano escolar consumiram alguma bebida alcoólica. Eram 50% em 2012.
► No período de 30 dias anteriores à pesquisa, 23,8% beberam; meninas, 25,1%, meninos, 22,5%.
► Na escola pública há mais alunos bebendo (24,3%) do que na rede privada (21,2%).
► Um em cada cinco alunos (21,4%) já teve pelo menos um episódio de embriaguez.
► 9% dos alunos pesquisados pelo IBGE já usaram alguma droga ilícita: meninos (9,5%) mais que meninas (8,5%). A Região Norte brasileira tem 6,8% de alunos envolvidos com drogas.