Nunca fui um exemplo de “pessoa religiosa”, longe disso. Contudo fui criado no interior, família tradicional cristã, minha mãe ainda hoje carrega consigo o status de fundadora da comunidade religiosa Monte Sião, no interior da Transamazônica, status muito honroso na região, pelo menos para ela e para os cerca de 300 habitantes da localidade. Em meu tempo de infância, Quaresma, Semana Santa, Páscoa, Natal… Eram datas sagradas e reverenciadas como tal. Durante a Semana Santa, suspendia-se a todo tipo de labuta a harmonia entre os membros da comunidade era uma imposição, decreto! Desavenças eram perdoadas, nada de gritos, até as correrias das crianças eram atenuadas, sempre com as ameças do pós Semana Santa, “depois nos acertamos”, ouvia sempre. Chocolate? Ovo de Páscoa? Não se tinha a menor relação com o período religioso.
Tanto quanto o Papai Noel, estranho personagem fruto de uma deturpação da imagem de São Nicolau e que foi popularizado pela Coca-Cola e encampado pelo “mercado” que tanto fez para encobrir o significado do Natal, também a Páscoa há muito deixou de ter qualquer sentido de reflexão espiritual. O mais irônico é que boa parte desta perda de sentido foi promovida por “cristãos” atrelados a uma forma de religião bastante ligado ao espírito do capitalismo…
A páscoa não diferente de muitas a outras datas comemorativas, possui apenas um objetivo: gerar lucros para os donos dos meios de produção. O verdadeiro sentido da páscoa é a comemoração da ressurreição de Jesus Cristo após sua morte por crucificação. No entanto os donos dos meios de produção deram um jeitinho de transformar a data em algo lucrativo. Logo, criaram os coelhinhos e os ovos de chocolate, tudo em prol do lucro.
Modificaram todo o sentido de uma data religiosa, pensando no lucro. A atual Páscoa deixou de ser um momento de reflexão/meditação sobre o significado de uma vida exemplar e do sacrifício por uma ideia, por uma visão de sociedade e humanidade igualitária, de uma esperança de vida para além da vida para se tornar puramente festa (para supermercados, agências de viagens e lojas)…
A procura por chocolate (malditos capitalistas que criaram esse esteriótipo de que é importante comer chocolate nessa época do ano e quem não come está fora dos padrões de aceitação da sociedade) é imensa nessa época do ano e os preços sobem disparados. Os publicitários ainda mais espertos, tiveram a brilhante ideia de colocar prêmios dentro dos ovos de chocolate. Dessa forma os filhos colocam seus pais loucos, esperando pelos melhores ovos e melhores prêmios. Como se não bastasse, a grande preocupação no “pós páscoa” há muito deixou de ser questões espirituais/humanitárias, atualmente o que domina os comentários são “os quilos que terei que perder”. Até quando? Boa e achocolatada páscoa a todos.