Físicos afirmam que, em todo cenário de catástrofe, esses microanimais serão os herdeiros do nosso planeta.
Odeio ter que dar essa notícia, mas a verdade é que nós, humanos, seremos extintos em breve – algo entre 100 e 5 bilhões de anos, dependendo de que laboratório consultamos. Você deve desconfiar que a extinção humana nunca aconteceu antes e por isso é bem difícil prever com precisão. Mas, de acordo com uma nova pesquisa realizada por físicos de Harvard e Oxford, nos EUA e na Inglaterra, respectivamente, uma coisa é quase certa: muito depois da extinção dos humanos, os tardígrados ainda estarão vivos.
Também conhecido como urso-d’água, este bichinho é um extremófilo de 8 patas famoso por sobreviver onde outros organismos vivos complexos não conseguem. Com até 1,2 milímetros, ele é capaz de viver por até 60 anos, de sobreviver por 30 sem água ou alimento, de resistir a temperaturas de até 150°C e de sobreviver à exposição do vácuo do espaço.
Com essas credenciais, não é de surpreender que os físicos tenham previsto esse bicho como herdeiro da Terra – até, porque, o único jeito de se livrar dele é fervendo todos os oceanos do planeta.
“Os tardígrados são praticamente indestrutíveis aqui na Terra”, afirma Rafael Alves Batista, físico de Oxford. “Sem nossa tecnologia para nos proteger, os humanos são uma espécie bastante delicada. Mudanças sutis em nosso ambiente nos impactam significativamente. A vida neste planeta poderá continuar muito depois da extinção dos seres humanos.”
Para testar essa hipótese, os pesquisadores de Oxford e Harvard consideraram três supostos eventos astrofísicos apocalípticos capazes de destruir todos os seres humanos (e a maioria dos seres vivos) no planeta: o impacto de um asteroide, uma supernova e uma explosão de raios gama.
Os pesquisadores descobriram que apenas uma dezena de asteroides e planetas anões do sistema solar (incluindo Plutão) têm massa suficiente para causar a fervura dos oceanos com um impacto e, assim, ser ameaça aos tardígrados. Felizmente, para esses bichos, nenhum desses objetos passará pela órbita da Terra.
Com relação às supernovas (a explosão grandiosa que ocorre ao fim da vida de uma estrela), esse evento teria de acontecer dentro de 14 anos-luz da Terra a ponto de ferver os oceanos. Levando em consideração que a estrela vizinha mais próxima de nós está a 4 anos-luz, as chances de que uma supernova dizime o tardígrado são ínfimas.
Por último, temos a explosão de raios gama, que consiste em uma quantidade extrema de radiação emitida durante uma supernova. Uma rajada de raios gama a 40 anos-luz da Terra transformaria nossos oceanos em uma sopa violenta, porém, de acordo com os cálculos dos físicos, as chances de que um evento estelar dessa magnitude aconteça em nossa vizinhança galáctica antes de nosso próprio sol explodir e destruir a Terra também são muito pequenas.
Em resumo, os únicos acontecimentos cósmicos capazes de matar as espécies mais resilientes da Terra são tão improváveis que o tardígrado estará por aqui para testemunhar a explosão do sol. O mesmo não pode ser dito dos humanos, que devem se preocupar com possibilidades apocalípticas mais urgentes, como uma guerra nuclear, a batalha com a IA, o excesso de população, as mudanças climáticas cataclísmicas e a preocupação com outras espécies.
Apesar de ser uma imagem desoladora para nós, humanos, a verdade é que ela apresenta um retrato bastante otimista a respeito da vida no universo.
“Estamos entrando numa fase da astronomia capaz de observar os exoplanetas e esperamos, em breve, realizar sua espectroscopia em busca de sinais de vida, então, devemos tentar ver o quão frágil esse tipo de vida resistente é”, afirma David Sloan, físico de Oxford. “Para nossa surpresa, descobrimos que, embora as supernovas mais próximas ou grandes impactos de asteroides sejam catastróficos para as pessoas, os tardígrados podem sair ilesos. Parece que a vida, uma vez que acontece, é cada vez mais difícil de ser destruída.”