Brasileiro está preso na Rússia há um mês por portar chá de ayahuasca

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O terapeuta holístico Eduardo Chianca com indígenas da tribo Fulni-ô, em Pernambuco

O terapeuta brasileiro Eduardo Chianca Rocha, 66, está preso desde o dia 31 de agosto em Moscou, na Rússia, por portar oito litros de chá de ayahuasca.

O chá, de efeito alucinógeno, é utilizado em terapias e rituais religiosos e seu uso no Brasil é permitido, mas ela contém uma substância chamada dimetiltriptamina que pode ser proibida em alguns países, como é o caso da Rússia.

Chianca, pesquisador e terapeuta holístico que mora nos arredores do Recife (PE), ministra cursos e palestras de uma terapia chamada “Frequências de Luz”, no Brasil e em outros países. Além da Rússia, onde já concedeu cursos em outras ocasiões, nessa viagem ele também visitaria Ucrânia, Suíça, Holanda e Espanha.

Segundo sua companheira, Patrícia Alves Junqueira, Chianca não tinha conhecimento da proibição da substância na Rússia.

“Ele desconhecia o rigor da lei russa sobre substâncias psicotrópicas que podem dar origem a outras substâncias ilegais. É uma lei recente, de 2013. O Eduardo já frequentava a Rússia uma vez por ano desde 2010 e nunca teve problema lá. Nunca teve problema com o ayahuasca em nenhum país”, diz ela.

Patrícia, os três filhos de Chianca e outras entidades se uniram para tentar a liberação do brasileiro, que está sendo investigado por tráfico internacional de drogas. Apesar do contato com o Itamaraty e as embaixadas do Brasil na Rússia, e da Rússia no Brasil, a família pede uma ação direta do governo brasileira.

“Precisamos que o governo brasileiro fale com o governo russo, para que saibam quem é o Eduardo. Ele não é um ilustre desconhecido, é um palestrante internacional que formou centenas de terapeutas holísticos. Só na Rússia foram cerca de 200 formados”, conta.

Foto de 2011 mostra Chianca com alunos formados em seu curso "Frequências de Luz", na Rússia

Foto de 2011 mostra Chianca com alunos formados em seu curso “Frequências de Luz”, na Rússia

Segundo ela, o próprio advogado russo que está cuidando do caso afirmou que esse é o caminho mais eficiente para resolver o caso – e, de acordo com o relato do jurista, é a maneira com que o governo de Vladimir Putin lidaria se o envolvido fosse um cidadão russo.

“Ele não estava carregando uma droga, e sim uma uma medicina de origem indígena, permitida em seu país, nos Estados Unidos, na Suíça e em vários outros. É um absurdo a continuidade disso. É possível encerrar essas investigações, desde que o governo brasileiro interceda diretamente. Pelo caminho jurídico, é longo, penoso e extremamente caro. O Eduardo é um terapeuta que trabalha e reverte todo o fruto de seu trabalho para receber alunos do mundo inteiro. A gente não dispõe de recursos para custear o processo”, lamenta Patrícia.

Na tentativa de chamar a atenção para o caso de Chianca, a família contou com a ajuda do deputado federal Giovani Cherini (PR-RS), líder da Frente Parlamentar Holística, que escreveu uma carta à Embaixada da Rússia no Brasil solicitando a liberação do terapeuta.

Lideranças indígenas, que trabalham com o terapeuta em seu sítio nos arredores do Recife, chamado Instituto Plêiades, também manifestaram apoio, escrevendo um apelo ao presidente russo, Vladimir Putin.

Contatado pelo UOL, o Itamaraty informou que a Embaixada do Brasil em Moscou acompanha o caso desde o dia 31 de agosto, quando foi informada da detenção do brasileiro, e tem mantido contato com seu advogado na Rússia e com seus familiares no Brasil.

Disse ainda que, por questões de privacidade, “não fornece informações sobre cidadãos nacionais aos quais presta assistência consular”.

Os contatos do terapeuta com a família são feitos por meio de representantes do consulado brasileiro em Moscou e do advogado russo que trabalha no caso. Segundo Patrícia Junqueira, Chianca está em um centro de detenção, em uma cela com cerca de 12 pessoas.

De acordo com ela, o consulado brasileiro informou que ele está sendo bem tratado e bem alimentado pelas autoridades russas e que o local conta com infraestrutura. “Ele tem ótima saúde e é muito assistido espiritualmente, só que o ônus material, físico e psicológico é grande. Por mais forte e equilibrada que seja a pessoa, ela vai sofrer consequências de ficar detida”, diz.

O advogado e o consulado tentam reverter a prisão dele em prisão domiciliar, o que lhe permitiria entrar em contato direto com a família –uma de suas alunas na Rússia, inclusive, já teria se colocado à disposição para abrigá-lo durante as investigações. “Já melhoraria a situação dele, mas é claro que não é a solução”, diz Patrícia.

“Ele jamais sonhou com uma coisa dessas. É um senhor estritamente cumpridor de leis e sumariamente contra qualquer substância ilegal. Ele tem contato com usuários de substâncias ilícitas –ou lícitas, como o álcool e o cigarro– que fazem a sua terapia para se libertar de vícios. Na terapia holística, não se pode ter vícios ou qualquer coisa que aprisione a pessoa. Ele jamais se aventuraria a transportar o chá se tivesse conhecimento de que seria algo ilegal”, finaliza.

Fonte: FOLHA

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